terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Verdade escondida


A verdade de cada um, nada tem a ver com a verdade da Razão

     Sabem quando é que 2+2=5? Quando a conta está errada. E com este pressuposto, a afirmação de que 2+2=5 passa a verdadeira, não deixando contudo de ser falso que 2+2=5. A Verdade Universal, diz-nos que 2+2=4, e essa é, a verdade da Razão, apenas, porque está isenta de pressupostos humanos, porque sempre que o ser humano pressupõe algo, geralmente faz asneira, o mesmo é dizer, altera a Verdade Universal, transformando-a na verdade de cada um de nós.
     Tentem imaginar dentro das vossas mentes, a imagem de um lago, de águas límpidas e cristalinas, em que a superfície não se move absolutamente nada, lago esse rodeado de um deserto de areia, de areia amarela, não de uns grãos de areia mais amarelos ou mais escuros, mas de grãos de areia todos da mesma cor sem excepção, uma superfície de areia completamente lisa e plana, onde nada acontece, nada se move, nada se altera. Este é o cenário da Verdade Universal.
     Dentro deste cenário, imaginem então que surge uma pequena brisa de ar, que levanta tão-somente um ínfimo grão de areia e a desloca para a superfície da água, e com este pressuposto, alteramos já o cenário da Verdade Universal, tanto do lago como do deserto. Imaginem que a brisa ligeira se torna agora numa aragem mais forte, e mais grãos de areia se elevam, caindo uns no lago outros no deserto, mudando assim de sítio, alterando a forma lisa e plana do deserto, e fazendo mexer a superfície do lago, e imaginem ainda que essa forte aragem se torna em vento, em vento forte e por fim numa tempestade, o deserto deixou agora de ser plano e tem dunas de areias umas mais movediças que outras, a superfície do lago tem agora ondas e deixou de ser límpida e cristalina. O cenário deixou assim de ser a Verdade Universal de um plano de água e areia, passou a ser o cenário da Verdade da água, areia e vento, sob a influência de uma tempestade de pressupostos.
     Podemos continuar assim, se o desejar-mos, a incluir pressupostos nos nossos sucessivos cenários, alterando sempre assim a Verdade pessoal de cada um dos cenários, na verdade pessoal do cenário que se lhe segue, mas a Verdade Universal de cada um dos elementos continua lá escondida, apenas está distorcida por de trás da verdade pessoal de cada cenário.
     Eu acredito num cenário de Verdade Universal, em que um deus cria um mundo perfeito á sua própria imagem, mas acontece que depois esse mesmo deus altera os pressupostos, deixando esse mundo de ser em si uma Verdade Universal, para se tornar apenas num reflexo dessa imagem,e isso é algo em que já não posso acreditar.
     Hoje em dia, neste mundo global em que lutamos pela sobrevivência da espécie, somos bombardeados constantemente por pressupostos, que alteram as verdades que conhecemos, a Verdade Universal que julgamos conhecer, mas que na verdade, não passa apenas da nossa própria verdade pessoal. E é no fundo por isso que existem pessoas teimosas, que defendem até á exaustão as suas verdades pessoais como se fossem Verdades Universais. São pois essas pessoas, de todas, as que menos próximos estão da Verdade Universal. Para atingir essa mesma Verdade Universal, é preciso retirar do cenário, todos os pressupostos que se somaram á equação, mas dado que a equação (a que alguns chamam de’’a formula de deus’’), já foi criada há tanto tempo, que muitos foram os pressupostos que sucessivamente se foram sobrepondo. Algo me diz que nos estamos constantemente a afastar da Verdade Universal, a menos que, deixemos de sobrepor novos pressupostos em cima da equação original, e, ao mesmo tempo, tentemos identificar quais são os elementos que fazem parte dos pressupostos, e quais os elementos que fazem parte da equação original, nunca conseguiremos nos aproximar da dita Verdade Universal.
     Não é por eu afirmar com um ar muito convicto e argumentos convincentes numa primeira análise, de que o cristianismo é que é verdadeiro, que o torna realmente verdadeiro, da mesma forma, não é por defender com a minha vida de que o comunismo é bom e o capitalismo mau, que isso faça de um ou do outro a verdade suprema. É que toda e qualquer afirmação que possamos fazer nesse sentido, não está isenta de pressupostos, muitos e aos molhos, pressupostos esses que alteram a percepção que temos da Realidade. Ora, sem uma total abstenção de complexos, preconceitos, estereótipos, e outros tipos de pressupostos, fica difícil uma análise cuidada e realista daquilo que pretendemos que se aproxime o mais possível da Verdade Universal.
     Todos nós devemos funcionar nas nossas análises da realidade, como um filtro, tentando separar aquilo que é realmente a Verdade, daquilo que nos querem fazer impingir como sendo verdade. Por isso continuo a defender, que a melhor aposta que qualquer sociedade pode fazer na sua busca do sucesso, é a da educação e formação dos seus cidadãos, porque quanto melhor estes estiverem preparados para distinguir os pressupostos, mais clara e verdadeira será a percepção que tem do mundo em que vivem.
    Já dizia o grande Aristóteles, «se penso, logo existo». O que não significa que todos os que existem, pensem de Verdade. Mas fazer o quê? Pressupostos!

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