quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Mau jornalismo ou Jornalismo do Diabo...




Ontem na SIC Noticias assisti a algo que me deixou algo preocupado, por nada que eu não soubesse já há muito, mas porque parece que a coisa se torna cada vez mais grave.

Como já toda a gente deve saber, O Primeiro-ministro ontem, 27 de Fevereiro de 2013 , deslocou-se à universidade de direito de Lisboa para participar numa conferencia promovida pela JSD a fim de discutir a Reforma do Estado e os tão mau fadados cortes de 4 Mil Milhoes de Euros. Este é o acontecimento. A Noticia, deveria ser em Meu entender o conteúdo desse debate.
Ora acontece que a noticia, e estou a ser generoso ao considerar aquilo assim, ‘’ a coisa’’, que o canal noticioso lançou para o ar foi algo parecido com o que passo a relatar: Ligação em directo por parte da Pivot ao repórter no local. O dito repórter começa por explicar que aconteceu por ali uma grande confusão, e que a dimensão da confusão foi de tal ordem que o dito repórter perdeu o microfone e deixou que este ficasse todo partido em pedaços. A este assunto foram dedicados cerca de 3 minutos. Depois continua a justificar a dimensão da dita confusão com as atitudes protestativas dos manifestantes, descrevendo que estes tinham uma espécie de uma forca de onde tinham pendurado uma corda na ponta da qual existia um coelho enforcado. Com as respectivas palavras de ordem, e repetição exaustiva das mesmas imagens foram dedicados cerca de 6 minutos. Posto isto, o repórter lembrou os telespectadores que o objecto da dita conferência era a discussão e debate da reforma do Estado, tendo para isso incluído uma peça pré-gravada de imagens do discurso do Primeiro-ministro onde ele falava da forma como encarava estes actos de manifestação popular e exercício do direito à liberdade de expressão. Mais cerca de 30 segundos. De seguida menção de novo aos protestos à saída do Primeiro ministro da sala e da forma como ele os enfrentou. Mais 2 minutos de imagens dedicadas a este assunto. Depois, e para finalizar uma outra peça dedicada à opinião de Marcelo R. de Sousa, e às implícitas criticas que este dirigiu ao PM e respectivo governo. Mais 3 minutos. Posto tudo isto fecha-se a reportagem com uma repetição em jeito de sumula e conclusão de tudo o que já tinha sido dito anteriormente que encheu mais um chouriço de 2 minutos.
Com tudo isto fiquei a saber o que já sabia. Que para onde quer que o PM e respectivos membros do governo se dirijam existem muitas manifestações, que os jornalistas nenhum gosta deste governo, e que todos estão a favor das manifes e em defesa do direito à liberdade de expressão, e ainda que o repórter é tão competente que nem do microfone sabe tomar conta (para um jornalista perder o microfone, é o equivalente a um soldado deixar roubar a arma em combate). O que não fiquei a saber foi aquilo que em meu entender realmente importava saber: o que pensa o PM da reforma do estado, o que pensam os intervenientes no debate acerca da mesma e que matérias em concreto foram tratadas nesse debate de ideias, e a que conclusões se chegou se é que se chegou a alguma,ou seja, parece que por vontade expressa dos senhores jornalistas, esse debate de ideias ficou enclausurado dentro da sala onde se deu o evento, ficando o grande publico assim privado do direito á informação tantas vezes pretensamente defendida pelos senhores jornalistas.

Acabei por estes dias de ler um livro cujo autor é alguém que tem ou teve responsabilidades na direcção de informação de um canal publico de televisão, cujo titulo é ‘’A Mão do Diabo’’, da Gradiva e que eu aconselho vivamente a ler. Trata-se de uma importante fonte de informação para as causas e consequências da crise económica, financeira e social que se vive não só em Portugal bem como em outros países e zonas do Globo. As ideias e teorias ali explanadas e defendidas não constituíram para mim qualquer novidade vindo assim ao encontro ao que eu já pensava acerca do assunto, o que me choca de sobremaneira no livro, é saber as responsabilidades profissionais do autor, enquanto jornalista e director de informação de um canal de Tv, publica, e constatar a macieza e a delicadeza com que os responsáveis pela dita crise são tratados em entrevistas levadas a cabo por estes mesmos jornalistas, deixando-os passar incólumes por entre os pingos da trovoada consumando assim os seus vis intuitos de continuar a enganar o Povo.
Povo este, que pelas causas bem expressas neste dois exemplos que aqui vos trouxe, continua a ser enganado por políticos, com a conveniente conivência dos senhores jornalistas. Deitam foguetes para o ar criando números de ilusionismo que distraem o Povo do essencial distraindo-o com o acessório, com o fútil, e condenando-o desta forma à eterna ignorância.
Que saudades das entrevistas de Margarida Marante, em que ela agarrava esses politicas da treta pelos colarinhos e os espremia ate à ultima gota. Depois disso, o jornalismo vendeu a sua alma ao diabo.
Não é por isso de admirar que este Povo tenha escolhido tão mal os seus representantes políticos e respectivos governantes nas ultimas quatro décadas, nunca dispondo da informação necessária  que lhes é devida por direito constitucional para se poder informar e esclarecer,  sendo essa fundamentalmente a razão do estado em que se encontra o Estado e as contas do mesmo.

Como há já muito tempo venho dizendo, governantes, jornalistas e outras classes, socio-profissionais, somos todos filhos do mesmo Povo que nos pariu, e enquanto não assumir-mos todos a nossa quota-parte de responsabilidade, dificilmente saímos do buraco e do vazio de ideias, de ética e outros valores em que nos encontramos.