Ontem na SIC Noticias assisti a algo que me deixou algo preocupado, por
nada que eu não soubesse já há muito, mas porque parece que a coisa se torna
cada vez mais grave.
Como já toda a gente deve
saber, O Primeiro-ministro ontem, 27 de Fevereiro de 2013 , deslocou-se à
universidade de direito de Lisboa para participar numa conferencia promovida
pela JSD a fim de discutir a Reforma do Estado e os tão mau fadados cortes de 4
Mil Milhoes de Euros. Este é o acontecimento. A Noticia, deveria ser em Meu
entender o conteúdo desse debate.
Ora acontece que a noticia, e
estou a ser generoso ao considerar aquilo assim, ‘’ a coisa’’, que o canal
noticioso lançou para o ar foi algo parecido com o que passo a relatar: Ligação
em directo por parte da Pivot ao repórter no local. O dito repórter começa por
explicar que aconteceu por ali uma grande confusão, e que a dimensão da
confusão foi de tal ordem que o dito repórter perdeu o microfone e deixou que
este ficasse todo partido em pedaços. A este assunto foram dedicados cerca de 3
minutos. Depois continua a justificar a dimensão da dita confusão com as
atitudes protestativas dos manifestantes, descrevendo que estes tinham uma
espécie de uma forca de onde tinham pendurado uma corda na ponta da qual
existia um coelho enforcado. Com as respectivas palavras de ordem, e repetição
exaustiva das mesmas imagens foram dedicados cerca de 6 minutos. Posto isto, o
repórter lembrou os telespectadores que o objecto da dita conferência era a discussão
e debate da reforma do Estado, tendo para isso incluído uma peça pré-gravada de
imagens do discurso do Primeiro-ministro onde ele falava da forma como encarava
estes actos de manifestação popular e exercício do direito à liberdade de
expressão. Mais cerca de 30 segundos. De seguida menção de novo aos protestos à
saída do Primeiro ministro da sala e da forma como ele os enfrentou. Mais 2
minutos de imagens dedicadas a este assunto. Depois, e para finalizar uma outra
peça dedicada à opinião de Marcelo R. de Sousa, e às implícitas criticas que
este dirigiu ao PM e respectivo governo. Mais 3 minutos. Posto tudo isto
fecha-se a reportagem com uma repetição em jeito de sumula e conclusão de tudo
o que já tinha sido dito anteriormente que encheu mais um chouriço de 2
minutos.
Com tudo isto fiquei a saber o
que já sabia. Que para onde quer que o PM e respectivos membros do governo se
dirijam existem muitas manifestações, que os jornalistas nenhum gosta deste
governo, e que todos estão a favor das manifes e em defesa do direito à
liberdade de expressão, e ainda que o repórter é tão competente que nem do
microfone sabe tomar conta (para um jornalista perder o microfone, é o
equivalente a um soldado deixar roubar a arma em combate). O que não fiquei a
saber foi aquilo que em meu entender realmente importava saber: o que pensa o
PM da reforma do estado, o que pensam os intervenientes no debate acerca da
mesma e que matérias em concreto foram tratadas nesse debate de ideias, e a que
conclusões se chegou se é que se chegou a alguma,ou seja, parece que por
vontade expressa dos senhores jornalistas, esse debate de ideias ficou
enclausurado dentro da sala onde se deu o evento, ficando o grande publico
assim privado do direito á informação tantas vezes pretensamente defendida
pelos senhores jornalistas.
Acabei por estes dias de ler um
livro cujo autor é alguém que tem ou teve responsabilidades na direcção de
informação de um canal publico de televisão, cujo titulo é ‘’A Mão do Diabo’’, da
Gradiva e que eu aconselho vivamente a ler. Trata-se de uma importante
fonte de informação para as causas e consequências da crise económica,
financeira e social que se vive não só em Portugal bem como em outros países e
zonas do Globo. As ideias e teorias ali explanadas e defendidas não
constituíram para mim qualquer novidade vindo assim ao encontro ao que eu já
pensava acerca do assunto, o que me choca de sobremaneira no livro, é saber as
responsabilidades profissionais do autor, enquanto jornalista e director de
informação de um canal de Tv, publica, e constatar a macieza e a delicadeza com
que os responsáveis pela dita crise são tratados em entrevistas levadas a cabo
por estes mesmos jornalistas, deixando-os passar incólumes por entre os pingos
da trovoada consumando assim os seus vis intuitos de continuar a enganar o
Povo.
Povo este, que pelas causas bem
expressas neste dois exemplos que aqui vos trouxe, continua a ser enganado por
políticos, com a conveniente conivência dos senhores jornalistas. Deitam
foguetes para o ar criando números de ilusionismo que distraem o Povo do
essencial distraindo-o com o acessório, com o fútil, e condenando-o desta forma
à eterna ignorância.
Que saudades das entrevistas de Margarida Marante, em que ela agarrava esses politicas da treta pelos colarinhos e os espremia ate à ultima gota. Depois disso, o jornalismo vendeu a sua alma ao diabo.
Não é por isso de admirar que
este Povo tenha escolhido tão mal os seus representantes políticos e respectivos
governantes nas ultimas quatro décadas, nunca dispondo da informação necessária que lhes é devida por direito constitucional para se poder informar e esclarecer, sendo essa fundamentalmente a razão do estado em que se encontra o
Estado e as contas do mesmo.
Como há já muito tempo venho
dizendo, governantes, jornalistas e outras classes, socio-profissionais, somos
todos filhos do mesmo Povo que nos pariu, e enquanto não assumir-mos todos a
nossa quota-parte de responsabilidade, dificilmente saímos do buraco e do vazio
de ideias, de ética e outros valores em que nos encontramos.