O Mundo está a mudar. O Mundo nunca parou de
mudar. A humanidade em certa altura e ainda hoje em certos sítios tenta impedir
essa mudança, mas em vão. O Mundo não pára. O Tempo não pára. A Humanidade
muito menos.
Essas mudanças tornaram-se cada vez mais rápidas
a partir do Renascimento. Essas mudanças ganharam velocidade de cruzeiro com a
Revolução Industrial. Essas mudanças atingiram velocidade supersónica com a revolução
informática. Essas mudanças atingirão a velocidade da luz antes do fim deste
século.
Normalmente o primeiro passo para a mudança é um
avanço tecnológico, que desencadeia um proveito económico, que por sua vez
provoca alterações sociológicas e que normalmente culmina numa alteração
cultural. Foi sempre assim ao longo da história. O que somos hoje é fruto de
todas essas marcas deixadas na capacidade que o ser Humano tem de guardar,
acumular e fazer passar de geração para geração informação. A nossa cultura é o
que somos, é a biblioteca do conhecimento acumulado e preservado e disseminado.
Neste momento, a Humanidade enfrenta um desafio
colossal. As inovações tecnológicas e a sua implementação prática na vida das
pessoas é tão rápida, que a Economia, a Sociedade e a Cultura não estão a
revelar capacidade suficiente de
adaptação. Isso prejudica o equilíbrio da sociedade. Quando uma sociedade é
desequilibrada, é natural que se procure o seu equilíbrio, afinal a ordem nasce
do caos. Aí fica a descoberto um desequilíbrio maior. Quando surge a solução
para uma ordem, já a tecnologia avançou tanto que o triunvirato ESC ( Economia,
Sociedade, Cultura) estão outra vez atrasados na solução. Isto gera uma
constante desordem. O ESC tem revelado uma incrível incapacidade de
acompanhamento do Avanço Tecnológico (AT).
Numa primeira fase do AT, o ESC pareceu
acompanhar de forma rápida e segura. A Crise financeira que rebentou em 2008
veio revelar o contrario. O ESC errou na solução, e de repente deixa de ter
solução para o que quer que seja. A coisa piorou quando numa primeira fase
pensou que podia resolver o problema com as mesmas ‘’soluções’’ do passado.
Ora, quando há uma crise, a primeira coisa a fazer é mudar, adaptar. Isso não
foi feito. Insistiu-se no mesmo, e entretanto o AT continua imparável
acentuando o fosso de caos entre os dois.
Dentro do ESC, a primeira a tentar reagir foi a
Economia, mas falhou no diagnóstico, consequentemente, falhou a cura. Nisto, a
Sociedade não está pelos ajustes e rebela-se, a Cultura diz que isto não é nada
com ela e os outros que se amanhem.
Tunísia, Argélia, Egipto, Líbia, Grécia, China,
Rússia, Venezuela, Bangladesh, Sudão, Irão, Síria, Brasil, etc etc , todos eles
deram sinal que a sua classe politica não estava a resolver os seus problemas,
e que não concordavam minimamente com o rumo que a Economia estava a seguir com
a conivência de uma classe politica que deveria ser representativa dos
interesses da Sociedade mas que na verdade estava a defender os interesses da
Economia. Mas no final, a solução apresentada por todas estas manifestações de
desagrado resultaram em soluções erradas ou em não soluções que acabaram
irremediavelmente por voltar a beneficiar sempre os interesses da Economia.
Aparece no entanto dentro da Economia uma facção
com uma ideia diferente e inovadora. A Economia tem de ser vocacionada para
interesse do AT, da Sociedade e da Cultura, beneficiando desta forma e por
inerência o interesse da própria Economia. Acontece que essa solução
apresentada tem condicionantes. Uma responsabilização da ESC no seu todo, e um
grande sacrifício no curto e médio prazo por parte de cada uma destes três
membros do triunvirato. A Economia divide-se nas suas opiniões, a Sociedade e a
Cultura radicalizam-se numa negação. Ficamos num impasse. Cada uma das facções
continua na defesa do seu pequeno reduto.
Eis que um belo dia, um certo país chamado
Ucrânia, estando numa situação complicada fruto das criminosas promiscuidades
entre poder económico e politico que não defendiam nem representavam os
interesses da Sociedade e da Cultura, o poder económico deste país resolve
fazer mais um de tantos acordos já feitos para ir atenuando a débil e grave
situação financeira do país, hipotecando cada vez mais o seu futuro, acontece
que a Sociedade e a Cultura não estão pelos ajustes. Em vez de fazerem mais uma
manifestação como tantas outras que vinham a ser feitas por esse Mundo fora,
resolveram introduzir uma inovação.
Nós não
estamos contra que se hipoteque o nosso futuro em troca de dinheiro. Nós não
estamos contra os sacrifícios que nos são impostos. Nós somos contra a que se
hipoteque o nosso futuro a este, mas não aqueles.
O Povo ucraniano, não só disse o que não queria,
mas disse o que queria, e mais do que isso, sabe perfeitamente o que quer. Está
esclarecido e sabe que caminho quer fazer. O Povo Ucraniano, numa primeira fase
não exigiu a demissão do presidente. Exigiu que não se assinasse um acordo de
cooperação com a Rússia e que se desse primazia nessa cooperação à EU e aos
EUA. O presidente não acedeu, o Povo saiu à rua. O presidente atirou a matar, o
Povo não se intimidou. O poder politico e militar abandonou ou presidente e
tomou o partido do Povo. Aconteça o que acontecer o Povo venceu. O poder político
e militar teve o bom senso de tomar o partido do Povo. A manifestação
Ucraniana, foi de todas a que teve uma verdadeira revolução. Porque algo mudou.
E em tempos de crise o que se exige é que as coisas mudem.
Este é o exemplo da Ucrânia que devemos seguir. O
exemplo da mudança, das alternativas, da adaptação à realidade.
O Mundo vai invariavelmente continuar a sua
evolução, a sua transformação. É tempo de todos meterem na cabeça que as
adaptações e as mudanças têm de ser contínuas, simples, eficazes e rápidas.
A metáfora que me surge é a de um carro de
fórmula um conduzido por um cocheiro. Se temos um AT de fórmula um, então
precisamos de um ESC com capacidade e competência para o conduzir.
O ESC tem de imperativamente reagir de forma
rápida e assertiva. Não pode continuar a viver de ilusões, de burocracias, e de
joguinhos de interesses que beneficiam sempre os mesmos. A Ucrânia mostrou que
há um caminho diferente. Não demorará que outros lhe sigam o exemplo.