quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

São Cavalos de corrida?

São cavalos de corrida, ou então não… Sei lá
São máquinas velozes que nos fazem delirar e perder o fôlego
Que nos fazem sonhar com vidas que não aspiramos a viver
Vidas perdidas sem sentido futilidades de seres mortais
Que os imortais jamais viveram
São relâmpagos de luz inverosímil
Flashes de ideias igualmente inverosímeis
Utopias perdidas no tempo jamais conquistadas
Universos por descobrir por enquanto igualmente perdidos
Nos espaços temporais de mentes brilhantes, …ou então não.  
São livros por acabar
Essas mentes inquietas que sempre procuram ideias novas
E nunca encontram fim para os problemas que as atormentam
São mulheres férteis geradoras de vida
Essa vida que jamais morre enquanto a memória dos mortais as recordar 
Essa memoria que nos mantém vivos e com todo o esplendor
Da energia prima que a todos nos gerou e alimentou
São cavalos de corrida, ou então não… sei lá.
Sou apenas mais um pobre ignorante
Que se perdeu nas teias do conhecimento
E que foi consumido por um desses insectos devoradores de mentes suculentas
E recheadas de energia que os alimenta para gerarem mais mentes que correm
Em busca de algo que não sabem o que é nem nunca saberão
É o ciclo da energia sempre primordial
Mas sempre em mutação
São espirais de energia
Que correm pelo universo, quais…
Cavalos de corrida
Velozes como o vento das estepes galácticas
Varridas por chuva inteligível
Que nos atormenta desde a idade da inocência
Que grandes cavalgadas eu daria nesses póneis
Assustados por toda a grandiosidade do universo
Esse que ainda tão pouco se sabe se é grande ou pequeno
Porque Einstein se esqueceu de tomar como termo de comparação.
São cavalos de corrida, ou então não… que sei eu???

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Estado de sitio

   Passam-me luas e desejos incontornáveis diante dos olhos,
   Atrás fica o barulho das brochas das botas na calçada,
   Do lado esquerdo, duas meninas perguntam-me se preciso de companhia
   Do lado direito a deslocação de ar de mais um louco
   Com os tímpanos encharcados de poluição sonora.
   E pergunto a mim mesmo qual é o meu destino?
   Mas se eu soubesse,
   Talvez outro tempo e outro espaço fosse o meu ser
   Jamais direi o que tenho para dizer
   Jamais cantarei os poemas de outro poeta,
   A chuva miudinha continua a cair,
   Bate-me na face com a violência de um estalo
   A brisa, desloca-me o cabelo com a suavidade de uma carícia maternal,
   E o desejo invade a vontade do ser;
   Mas não a vontade do ter.
   Sento-me num meco colado à beira da foz
   E ouço o suave arrulhar da água de encontro ao paredão,
   Mais uma fragata que parte em busca de guerras sem sentido
   Recheada de homens, para quem a vida insiste em não fazer qualquer sentido.
   Paragens distantes aos olhares indiscretos,
   De bandidos governados pela ambição do incerto e da insegurança
   Sacerdotes que veneram a deuses sem sentido,
   Frutos proibidos da imaginação humana, e da fé divina
   Que jamais explicarão os mistérios da sabedoria.
   Passam-me planetas e constelações diante da imaginação,
   Para trás ficou o Sol pleno de saudades da filosofia, que um dia foi minha amante,
   Essa que me traiu com a vaidade de ser importante e sem sentido,
   Mas prefiro pensar que à esquerda e à direita ela me continua a ser fiel
   Porque à minha frente ela continua a ser a razão
   Que continua a fazer de mim, o que sou, e o que quero ser
   No pragmatismo da alma, e na hipocrisia do corpo
   Ó seres fúteis e hipócritas, deixai de lado a vaidade dos vossos amigos
   E amai a sinceridade dos vossos inimigos,
   Pois será essa que vos orientará nas galáxias do coração.
   Passam-me luas e desejos incontornáveis diante dos olhos
   E a todos vou agarrar com a mesma paixão, com que vos dedico,
   Esta mesma sinceridade com que vos escrevo estas sentidas linhas!
   Sentidas são as lágrimas,
   Desprezados os sorrisos,
   Procuro as dádivas
   Encontros amigos!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CAMINHANDO

                                                             III


     E vou andando sem destino ou direcção, é tarde, o sol brilha, queima vida escalda ferida, arrefece tensão, não nascem anjos no inferno, porque será? Haverá anjos? E inferno? Hum …. Dilema….ou nem por isso…      Um papa disse que se deus não existisse na havia ateus, brilhante reflexão mais parecida com diarreia cerebral bastante dotada de ignorância e estupidez, lembre-se senhor papa que se deus não existisse não havia ateus e muito melhor, tão-pouco existiriam cristãos judeus muçulmanos etc. etc. etc.… não quero ser utópico mas quão mais sossegado seria este mundo em que penamos sem todas essas
Guerras causadas em nome da religião e de deuses hipócritas, cínicos, vingativos, insolentes, e tão dotados de todas as imagens humanas, belíssimas pinturas, auto-retratos que fazemos de nos próprios.
     E vou andando sem destino ou direcção, sem saber onde me leva o tempo, sem saber onde me leva o sonho, essa espécie de caderno de encargos que nos guia e move pelas vertentes escarpadas da solidão, pelas vastas estepes do conhecimento, por mares de paixão. E vou andando, caminho por montes e vales e eis que me deparo com o leito seco de um rio, estou cansado, sento-me numa pedra do rio que o tempo e a força da água bruta das tormentas da montanha ainda não desfez, estou sentado, estou cansado, as pernas tremem, tenho sede, tenho fome, estou exausto. Tenho sono. Adormeço.
     Desfolho esse caderno de encargos mais uma vez, as folhas estão em branco, tenho de escrever, sem vontade, desespero, respiro fundo, recordo as coisas boas, analiso as más. Respiro fundo, tremo, sossego adormeço e voo nas asas do vento, nos raios de sol, e nasço, rebento, cresço, mas…. Mas… sou EU, NÃO ACREDITO SOU EUUUUUUU, e riu de mim, da minha estupidez, da minha inocência, e voo e corro e nado e deslizo, sou leve, um simples sopro de ar e deixo-me arrastar pela brisa de um monte para outro, depois para a copa de uma árvore e depois outra e depois outra ainda mais alta e depois para um penhasco distante, uma águia-real não faria melhor, não compreendo como mas sou uma brisa leve e suave, gentil e delicada e voou, mas como, mas porque? Estou pesado, estou a cair, mas porque? Quero voar mais mas não consigo, e caio e a terra aproxima-se a uma velocidade vertiginosa, mas como, e porque? E não acredito, sem controlo não sei o que se passa e caio e caio e caio sem destino e o solo desaparece e transforma-se em nuvem, passo por ela como uma bala e mergulho na luz, …. Na luz? Mas eu estava na escuridão? Que se passou? É um vale de luz brilhante que irradia não sei de onde, não compreendo, não há sombra, o que sou eu de onde vem a luz que me ilumina, onde está a verdade que me salvou? Estava eu mergulhado num mundo de mentira e de ilusão? Encontrei a salvação? O que sou eu? Onde estou? De onde vem toda esta luz? Que foi feito da escuridão? Sopra uma brisa, mas que ouço eu? Uma voz em forma de luz, um rosto em forma de sabor, vejo o som dos passos harmoniosos de alguém que se aproxima, estou tonto, que embriaguez.
     -Como aqui vieste parar?
     -Não sei, talvez tu me possas explicar….
     -Mas como? Que sei eu?
     -Não sei.
     -Que belo par de ignorantes, sabes ao menos como te chamas?
     -Eu sou….não sei? Estou perdido, preciso de ajuda. Podes me ajudar?
     -Mas se tu não sabes quem és como te posso ajudar?
     -Não sei, mas tu… tu não és um deus?!!!!
     -Há! Há! Há! Eu um deus? Quem me dera meu caro.
     -Mas tu… a tua forma, o teu ser a tua voz é tão diferente!!!
     -Pois meu caro amigo, e não são os deuses feitos à nossa imagem?
     -Qual imagem? À minha ou à tua? Que eu saiba, pelo menos pelo que me parece somos bastante distintos um do outro
     -Será que somos? Pois não me acabaste de dizer que não sabes quem és? Como sabes então que és diferente de mim?
     -Mas tu voas como uma brisa de luz e falas por pensamentos, vejo-te por raios eléctricos?
     -E tu, meu caro, como fazes tu tudo isso? Não será por acaso da mesma forma?
     -Eu? Mas eu sou um simples mortal!
     -E então? Conheces acaso alguma coisa que não seja mortal?
     -Hum… vendo bem acho que não, mas… os deuses não morrem!!
     -Hum bem… acho que aí tens razão, pois se não nasceram sequer como podem eles morrer?
     -Não nasceram? Então como existem?
     -Escuta meu caro, os deuses só existem na tua imaginação, enquanto existires eles existirão, quando morreres eles morrerão contigo também, pois eles são uma parte de ti, porque tu és divino e és tu que fazes deles os seres fabulosos que são, porque realmente são feitos à nossa imagem e programados com os nossos sonhos, pois são feitos por nós, tal e qual como quando te olhas ao espelho e formas dentro do teu cérebro uma imagem de ti próprio, da mesma forma crias uma forma para tudo aquilo em que acreditas, os teus sonhos, os teus pesadelos, as tuas tristezas e as tuas alegrias, todos esses mundos imaginários e idílicos, assim como todo o mundo natural e sensorial que te rodeia, tudo isso são uma parte dos deuses, são uma parte de ti, e da mesma forma tu és uma parte de outros deuses, outros seres, e esses seres são deuses e parte de outros mundos outras realidades, porque tudo é realidade, tudo é Vida, tudo é energia
     -Então quer dizer que eu sou um deus?
     -Se assim o quiseres entender és livre de o fazer, mas eu não iria por aí, eu seguiria o caminho da Vida, da química, da física, da explicação racional e não pelo caminho da explicação emocional que está sempre cheio de erros e contradições, tudo o que existe é vida e tudo está interligado numa teia muito complexa para a qual nem sempre, ou quase nunca temos respostas, e é aí que normalmente se comete o erro de imaginar explicações para os nossos problemas, uma espécie de bodes expiatórios que nos livrem dos nossos erros e nos aplaudam nas nossas conquistas.
     -Hum!!!....estou a ver. Mas como sabes tu todas essas coisas? Deves ser com certeza muito sábio?!
     -Há! Há! Há! Não meu caro, devias ter prestado mais atenção ao que te estive dizendo. Tudo faz parte de tudo, uma teia complexa interligada por infinitas variantes, eu sou tão sábio como tu ou como qualquer outro, pois eu sou tu e tu és eu, eu sou o bem e o mal, a alegria e a tristeza, a felicidade e a infelicidade a sabedoria e a ignorância, o que acontece é que existem certas nuances na vida e na forma como ela se nos apresenta e que nos leva a ver as coisas de forma diferente uns dos outros, aquilo que tu vez como sendo de cor azul, ou verde ou vermelho ou branco, não passa de uma ilusão, porque aquando da tua formação sensorial alguém te ensinou a atribuir um nome ás coisas, e só porque ambos as chama-mos pelo mesmo nome não significa que as vejamos ou saboreamos ou escutamos ou sentimos da mesma forma, e a isso chamamos de inteligência, assim como também não podemos dizer que somos mais inteligentes que outros seres, a inteligência de que somos dotados apenas é diferente de outras formas de inteligência, tu não consegues distinguir cerca de quatrocentos mil odores diferentes como fazem certos animais, mas por outro lado fazes coisas que outros animais não conseguem fazer, e é isso que se chama Vida, porque na realidade apenas a Vida é inteligente, porque a Vida é energia, que se move e transforma constantemente, de acordo com regras e normas que nós todavia desconhecemos e não sabemos sequer se algum dia o saberemos.
     -Hum…! Estou a ver, mas dizes que eu sou tu e tu és eu, como é isso possível?
     -Porque eu sou apenas mais um dos teus deuses, aquele que te ajuda a encontrar o caminho, aquele que te diz quem és, de onde vens e para onde vais.
     -E tu sabes tudo isso? E vais-me dizer?
     -Não meu caro, não é preciso, as respostas a todas as tuas perguntas estão dentro de ti, e é o teu caminho encontra-las, só tu podes responder às tuas dúvidas, só tu podes resolver os teus problemas, porque só tu és dono da tua vontade, porque a vida e a energia existem dentro de ti como em tudo o demais.
     -E como vou eu fazer tudo isso?
      E vou andando, mas agora com destino, vou à procura, ainda não sei de quê, nem porquê, mas sigo andando, à procura de respostas, tenho consciência que nem sempre as encontrarei e que nem sempre as que encontrarei serão as correctas, mas vou andando, caminhando, voando, saltando, nadando, deslizando, saberei fazer o meu caminho, a minha vida, por montes e vales sob a forma de vento, atravessarei planícies sob a forma de luz, e saberei que tudo serão ideias da minha imaginação, mas saberei também que uma coisa será real, que sou real e sei quem sou e sei em que acredito.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os Hipócritas

        Os hipócritas
      Hoje é dia 1 de Novembro de 2010, dia de mais um feriado religioso portanto, mais um dos 9 feriados religiosos que temos em Portugal ao longo do ano. Num total de 14 feriados nacionais 9 são religiosos, grande sem duvida o peso da igreja e da religião num estado que se diz e proclama de laico, nos últimos 25 anos tivemos 20 de presidentes da república laicos, o actual ninguém sabe o que ele é coitado, é mais um daqueles hipócritas que quando atravessa uma ponte de cordas em mau estado de conservação, tipo a ponte de Entre-os-rios, e lhe dá a chuva e o vento lateral grita desesperadamente, ‘’ deus é bom, mas o diabo também não é mau’’, afinal é assim que se ganham eleições.
     Pois é isso mesmo meus amigos que eu não entendo, se o estado é laico, porque que cargas de água se proclamam festas religiosas como feriados nacionais? Se se diz e proclama na constituição que todos os cidadãos gozam de liberdade de expressão e de orientação política e religiosa, que não deve haver distinção ou qualquer tipo de descriminação entre orientações políticas religiosas, entre raça cor ou etnia dos cidadãos ou de toda e qualquer pessoa estrangeira que visite o país, porque diabo se descriminam todas as festas religiosas em detrimento de uma única religião? Eu sei e concordo que em democracia vence a maioria, e Portugal é maioritariamente cristão, (pese embora nunca tenham lido a bíblia nem pratiquem nada do que a religião lhes diz, mas os feriados é certo dão-lhe um jeitão para arrumar mais uma grevezinha e um passeio pelo centro comercial ou um fim de semana no Algarve), mas também sei que a liberdade democrática de uns acaba quando começa a liberdade democrática de outros, a não ser claro na liberdade democrática dos Estados Unidos da América em que a liberdade democrática dos outros acaba quando começam os seus próprios interesses económicos (‘’in god we trust’’), mas isso não é no entanto, na minha modesta opinião, motivo para que se não faça a tão proclamada independência do estado face à igreja.
     Eu não sou daquelas pessoas que passa a vida a criticar, mas que nunca apresentam ideias alternativas, como tal aqui fica a minha modesta participação. Celebramos a restauração da independência, a implementação da republica, o fim de um regime ditatorial, comemoramos um poeta e até mesmo um dia para o trabalhador, e não deixa de ser irónico que a nível de personalidades não celebremos e homenageemos o fundador da pátria portuguesa Dom Afonso Henriques, não há um dia dedicado á fundação da nossa pátria, que tal o dia 24 de Julho pela vitoria na batalha de São Mamede em 1128, ou o dia 5 de Outubro pelo tratado de Zamora onde Dom Afonso VII reconhece o reino de Portugal e o título de rei a Dom Afonso Henriques, ou o dia 23 de Maio pela bula papal que declarou definitivamente o reino de Portugal em 1179? Ou até mesmo no domínio dos direitos humanos onde Portugal foi pioneiro, que tal o dia 25 de Fevereiro pela abolição da escravatura em 1869, ou o dia 1 de Julho pela abolição da pena de morte em 1867? Serão factos da nossa história de menor importância comparativamente ao 25 de Abril de 1974?
     Em relação às festividades religiosas, acho que devíamos dar uso á grande prática adquirida nos últimos 36 anos no domínio das tolerâncias de ponto, e dar tolerância de ponto (sem remuneração claro está) nas datas festivas (até um certo e determinado limite de dias por ano) de todas a orientações religiosas às pessoas que se confessem a uma religião, dando igual numero de dias à escolha durante o ano para aqueles que se confessem Ateus. Isto sim seria uma democracia em que o estado laico defende de igual forma os interesses de todos os cidadãos sem qualquer tipo de descriminação, onde se defenderia a igualdade entre todos como muitos prosaicamente proclamam, mas que nunca praticam, são os chamados hipócritas, faz o que eu digo não faças o que eu faço.
     Considero meus amigos que os tão proclamados valores de Abril estão esquecidos se é que alguma vez existiram, é que no dia 26 de Abril de 1974 já havia uns senhores a quererem impor a ditadura em Portugal outra vez, apenas com uma cor diferente, mudaram o nome às pontes, roubaram cidadãos, impuseram datas festivas, … tudo em nome da Liberdade, mas Portugal já era livre muito antes de eles cá chegarem, até somos o pais da Europa, com as fronteiras estabelecidas mais antigas, até isso seria motivo de dia feriado, (tratado de Alcanices entre o rei dom Dinis e o rei de Leão e Castela dom Fernando IV, 12 de Setembro de 1297), porque há muito na nossa historia de que nos podemos orgulhar sem continuar a vassalagem à igreja, até porque nós já éramos independentes antes da igreja o proclamar.
      O Dom Sebastião deveria voltar sim, mas devia se chamar Afonso Henriques.
     À TUA … GRANDE DOM AFONSO HENRIQUES!!!!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Os Incompetentes

            Os Incompetentes (leia-se os hipócritas, gatunos, ladrões, bandidos, corruptos, palhaços, lambe-botas, oportunistas, aristocratas, burgueses, mentirosos, …)
     Tenho os pés frios, os artelhos rangem, um comichão sobe pelas canelas, uma borbulha pica atrás dos joelhos, uma cãibra nas coxas, um arrepio na espinha, eriçam-se os cabelos do pescoço, dói-me a cabeça, fico de cabelos em pé, só de pensar nisto, uma pouca-vergonha que se ensina à mesa dos pais, ao pequeno-almoço, ao almoço, lanche e ao jantar, continua-se na escola onde se põe pela primeira vez em prática com umas eleições para delegado de turma, depois para a associação de estudantes, depois aparece-se na televisão numa greve-manifestação de estudantes, onde o estúpido do repórter faz meia dúzia de perguntas igualmente estúpidas coitado, isto de trabalhar a recibo verde, trabalho precário a tudo os obriga para por dois papo-secos na mesa aos filhos, ao que se responde meia dúzia de baboseiras sem sentido ou nexo tipo pá, tas a ver ou é assim, topas, na boa bute lá meu. Mas é a partir daqui que as coisas começam a ficar realmente difíceis, entram em cena conceitos e variáveis complexas como padrinho, cunha, palmadinhas nas costas e compadrios, ó tio ó tio, venha de lá esse abraço meu grande amigo, companheiro, colega e camarada, sim camarada fica sempre bem, em tempo eleitoral então fica melhor que uma diminuição de impostos ou um aumento de salários ou até mesmo uma alusão ao 25 de Abril de 74, camaradas eu lutei contra o fascismo e pela liberdade contra a opressão fascista, numa bela rue Parisien.
     E é assim meus amigos que se constrói uma carreira política ao mais alto nível, por um lado bajulando os mais velhos, e por outro garantindo o financiamento prestando uns favores aqui e ali aos senhores empresários, que coitados não têm outro remédio uma vez que os políticos resolveram tornar as suas carreiras e cargos políticos cheios de significado, criando e inventando umas quantas burocracias aqui e ali para justificar o ordenado, dificultando assim a vida a toda a gente, para eles mesmo facilitarem a vida a toda a gente através de uma pequena lembrança ou uma atençãozinha, criando ainda assim nas pessoas a ideia de que são realmente uns gajos muito porreiros e úteis quando na realidade são os principais responsáveis por este sistema incentivo-recompensa tão tipicamente tuga, de espertos e espertinhos, do tudo vale para saltar um lugarzinho que seja na fila, ou melhor, na bicha.
    E é a estes sujeitinhos minhas senhoras e meus senhores, que nunca fizeram nada de útil pela sociedade, que passaram a vida a colar e distribuir panfletos, a tirar cursos ao fim de semana, e a apregoar slogans anti-fascistas pelas ruas e mercados, quando deviam já saber há muito que em Portugal nem nunca houve realmente fascismo, que o 25 de Abril de 74 acabou às zero horas do dia 26 de Abril de 74, ou que o comunismo é realmente bom e verdadeiro na Rússia e em Cuba ou na China, e que ser comunista em Portugal é uma espécie de dádiva dos céus, hummmmmmmmmmmmm, que delicia, como gostaria de ser comunista na Rússia de Estaline, com purgas, campos de concentração, fome, miséria, trabalhos forçados, perseguições à liberdade de expressão, extermínios e genocídios em massa, que maravilha meus senhores e minhas senhoras, pois é minha gente são estes Senhores de S grande que nunca geriram mais que o seu próprio orçamento familiar e que têm os seus partidos endividados ate à quinta casa do caralho, mesmo com os avultados subsídios do estado que eles se atribuem a si mesmos, que nós contribuintes pagamos, e ainda andamos feitos parvos atrás deles com cachecóis e bandeirinhas, a cantar e a apitar e a buzinar slogans de musica ligeira que ficam no ouvido de toda a gente e que congelam esses cérebros mais sensíveis e tenrinhos que por aí vagueiam ao sabor da onda do momento conforme lhe dá o vento e a maré.
     Meus amigos deixem de bajular e adorar os senhores doutores políticos, não vale a pena, qualquer um de vós governa o país se se puser a isso, a saber: tiram-se umas fotos bem jeitosas todos bem penteadinhos, com umas cores de fundo a rondar o branco, o azul, o vermelho e o laranja, depois arranja-se um chavão qualquer que contenha as palavras Portugal, força, sempre, futuro, movimento, mudança e umas quantas mais, com o dinheiro dos contribuintes e com as ‘’ofertas’’ sem qualquer significado e somente de boa vontade dos grandes grupos económicos e dos lobbies que rondam que nem abutres a Assembleia da Republica e os palácios de São Bento e de Belém sem falar no terreiro do passo, ou do Largo do Rato ou na Lapa etc. etc. etc., compram-se uns direitos de antena nos meios de comunicação social, fazendo assim uns favores aos tais jornalistas que precisam de comprar papo-secos aos filhos, que os outros que sabem o que realmente dizem só falam barbaridades que não nos convêm nada e são uns pessimistas e catastrofistas, pregam-se uns cartazes imprimidos na gráfica do meu amigo, mais umas canetas t-shirts e bonés enfiados na cabeça dos parvos distribuídos por feiras e mercados, e depois é só dizer mal dos adversários que é o que os adversários fazem também está-se mesmo a ver claro está, não interessa dizer nada o que se quer ou o que se vai fazer para o país porque, pode não ser possível e depois ainda nos chamam mentirosos, então o melhor mesmo é dizer mal uns dos outros, insultos, reparos e comentários depreciativos, vale tudo menos ser sério, verdadeiro e rigoroso, e aqueles que falarem mais alto e com mais convicção e que passarem a campanha eleitoral sem ficarem roucos ou sem ruptura do stock de piropos, frases feitas e de creme para os lábios depois de tanto beijo às velhas com buços de 50 anos que picam mais que a minha barba com 2 dias, terá maior possibilidade de ganhar as eleições e passar os próximos 4 anos a fazer caretas de lá de cima do poleiro aos infelizes derrotados, a dizerem-lhe que não podem fazer melhor por culpa do que os outros fizeram quando lá estiveram, e é por isso que não podem lá voltar nem eles podem de lá sair, até porque agora é a nossa vez de pagar as dívidas depois de tanto favor e compadrio, e o povo tudo engole  e aplaude porque nunca se sabe quando é que se precisa de um emprego para a vida para a minha Mariazinha coitadinha que acabou agora mesmo de tirar um curso que não sei bem o que é mas já é doutora da universidade e que não sabe fazer nada lá em casa e eu quero mesmo é que ela arranje um bom emprego no estado e um marido que lhe compre os luxos para não ter de ser eu a continuar a sustenta-la que ela já é grande, e depois os namorados não  se me tiram lá da porta é um entra e sai que já me enche as medidas e é um falatório na vizinhança depois que ela foi apanhada no carro do presidente da câmara coitadinha com um ataque de asma toda vermelhinha e a garganta cheia de iogurte natural que estava com muita fome e já não se pode tomar o lanche descansada coitadinha, e  o presidente coitado tão nervoso e a transpirar, mas sempre uma excelente pessoa até me disse que era bem capaz de me arranjar um trabalhinho lá na câmara municipal a fazer não sei bem o quê.
     Posto isto, governar é a coisa mais fácil do mundo, vai-se ter com os empresários que nos financiaram as campanhas eleitorais, eles dizem-nos o que produzem lá nas suas empresas, e depois agarra-se nisso e paga-se a umas agências de Marketing que por acaso também foram muito atenciosos na campanha e que sem o show-off por eles montados não sei se agora aqui estaria, e faz-se passar para a opinião publica de que o que país precisa é daqueles artigos de quermesse todos, mais umas obras públicas, tipo rotundos, pavilhões multiusos e umas quantas linhas de comboio que anda mais devagar e é mais caro que o avião, mas que por custar para cima de um dinheirão dá um monte de comissões cá à malta do partido coitados que andaram estes anos todos a gritar e a colar cartazes sem ordenado coitadinhos, e como isso ainda não chega é preciso criar por aí umas fundações privadas de capitais públicos e mais uns quantos institutos públicos para dar emprego a toda essa gente que me tem ajudado tanto coitados a organizar estas festas e comícios e jantares de propaganda, para os mais amigos no entanto ainda é preciso fazer umas parcerias publico-privadas bastante vantajosas para os privados para conseguir pôr os ditos amigalhaços do coração no conselho de administração das ditas privadas, até porque eu não sei quando é que se acaba o tacho e quando daqui sair tenho de ter para onde ir, sim, porque as reformas burguesas que se acumulam em cima umas das outras como milho dentro de um saco não chegam para nada, alem do mais temos de providenciar um belo álibi para as contas bancárias e património fabuloso que se acumulam ao longo de uns poucos anos com o triste e miserável salário de Deputado, Secretario de Estado, Ministro, Primeiro-ministro, Presidente da Republica ou seja lá o que for.
     Há vinte anos atrás tivemos um Primeiro-ministro que foi pioneiro na arte de ganhar eleições e de bem governar o seu partido e os interesses dos seus amigos, encheu o cu dos funcionários públicos com ordenados e regalias principescas, inventou o conceito de portugueses de primeira e de portugueses de segunda dando a uns todas e quaisquer regalias como ADSE e reformas vitalícias por inteiro, enquanto os portugueses de segunda categoria pagavam tudo isso e aplaudiam, enquanto choveu uns quantos milhões diários da CEE durante uns quantos anos, houve regalias e subsídios para toda a gente, os amigos do partido sempre em primeiro lugar claro está e o povo aplaude e o senhor vai ganhando eleições e o povo vota e aplaude, entretanto esse senhor foi-se embora porque o povo já não podia com ele e estava tudo fartinho dele ate á ponta dos cabelos, mas a política é como no futebol, hoje és um herói amanha uma besta e dois dias depois voltas a herói outra vez, tanto assim é que esse senhor que a tantos fartou ainda conseguiu chegar a presidente da republica, depois de tirar o tapete a uns certos amigos de longa data. O senhor que se seguiu, ainda apanhou uns quantos fundos europeus mas nada que se compare, mas como o esforço para chegar ao poder foi muito grande teve de empregar uns quantos boys, ou seja, mais despesa para o estado, mas pelo menos teve o bom senso de se ir embora quando viu que não dava conta do recado e que aquilo era areia a mais para a sua camioneta e que tinha tido mais olhos que barriga, deixando o país ao abandono por mais de seis meses á espera de eleições, e afinal sempre é melhor fazer umas festinhas e distribuir umas migalhinhas aos pobrezinhos refugiados, enquanto se banqueteia com belos ordenados e belas viagens do que andar aqui a ouvir insultos e a aturar gente doida. A seguir veio um senhor muito simpático que é muito religioso e também já foi mauísta e também já colou muitos cartazes, que fala muitas línguas e é um grande amigo daquele senhor que já tinha fartado toda a gente, enfim um grande curriculum, e esse senhor que andava sempre a dizer que um dia ia ser primeiro-ministro não sabe bem como mas não é que até chegou mesmo a Primeiro-ministro! Bem esse senhor encontrou isto em tão mau estado, e as suas competências eram tantas, que viu logo que não vinha preparado para nada daquilo, então primeiro disse mal do que os que os outros tinham feito e que a culpa era dos outros e que ele não tinha culpa de nada e que tinha sido enganado nos números porque ele coitado afinal só sabia falar em não sei quantas línguas mas não sabia fazer contas e assim e assado e não sei quê e não sei que mais e volta acima e volta abaixo e lá andou de um lado para o outro e tão rápido como um cão para se deitar o dito senhor pirou-se para Bruxelas que isto aqui é só gente doida e ele não vinha preparado para nada daquilo que encontrou, ou melhor, que lhe deixaram, disse ele em surdina, e nisto deixa o condado portucalense entregue ao seu grande amigo qual presente envenenado, que não bastava ser enganado pelo seu melhor amigo, traído pelo pai deles todos, ainda se lembrou da triste e infeliz ideia de dizer que queria que os bancos deviam pagar impostos, -ó meu amigo uma coisa dessas não se diz, isso é pior que querer impor regras para ligar mangueiras no verão lá nos fontanários da minha terra, está claro que os ditos cujos se encarregaram de tratar do assunto e o senhor nem chegou a aquecer o lugar, isto porque o maior traidor da pátria portuguesa depois do Vasco Gonçalves, teve a patriótica atitude de dissolver a Assembleia da Republica, e dois dias depois teve a pouca vergonha de dizer que era preciso mudar a lei eleitoral para favorecer a formação de maiorias parlamentares quando ele tinha uma e a dissolveu. Eu aceito que esse cavalheiro tivesse destituído o primeiro-ministro até porque foi ele que o nomeou e lhe deu posse, agora dissolver o parlamento que foi democraticamente eleito pelo povo português por voto secreto em sufrágio universal, eu não posso aceitar, quem é esse senhor para se impor ao voto do povo? Deus? Que eu saiba ele até é laico, mas se não fosse assim nunca teríamos o privilegio de ter um primeiro-ministro tipo vendedor de carros e de burros e de t-shirts e de banha da cobra, com um curso tirado numa universidade indeligente num domingo á tarde depois de um belo churrasco entre amigos, tudo bem regado com um belo vinho e uns quantos scotchs, e com umas piadas em Inglês técnico pelo meio, a dirigir os destinos desta bela nação á beira-mar plantada.
     E foi meus amigos com este primeiro-ministro que fiquei a saber finalmente todos os segredos da boa governação de um país. Primeiro que tudo prometer muita coisa, ser original, beber uns copos e dizer toda e qualquer barbaridade que nos venha á cabeça, prometer tecnologia aos molhos, empregos às carradas, obras publicas ao nível dos Romanos ou do Roosevelt, benefícios fiscais e abonos a toda a gente, subsídios de pobreza, aumentos de ordenados e de pensões, aumentar impostos? Estão doidos ou quê? Nunca. Etc. Etc. Etc., é só escolher, tipo vomitado cerebral, veio á cabeça põe-se no papel, vai-se á televisão em horário nobre e já está. Acontece que para os românticos a desilusão e a decepção vêm sempre quando se apercebem que a realidade é bem diferente dos seus sonhos, e começam então os problemas à seria. Prometer é fácil, e enquanto houve dinheiro á farturinha também foi fácil governar com engenharias financeiras e deficits encapotados, mas agora já não é bem assim, mas, não há puta nenhuma que não tenha sorte sempre ouvi dizer, e então eis que aparece a crise financeira internacional, essa dadiva de deus nosso senhor todo-poderoso, afinal o deficit não é tanto, é mais ainda, a culpa é da crise financeira, a economia não cresce, a culpa é da crise financeira internacional, aumenta o desemprego, a culpa já se sabe, crise financeira internacional (CFI), é preciso aumentar os impostos caramba, adivinhem (CFI), olha pá o deficit aumentou outra vez, porra pá a culpa já disse é da CFI, o desemprego continua a aumentar, sim sim sim já sei CFI, mas o mais curioso é que quando se ouvem os membros do governo a falar está sempre tudo bem, vem aí a retoma económica, o desemprego esta a estabilizar e até vai haver crescimento, mas como eu sou muito burro e ignorante, continuo sem perceber porque caralho continuam os impostos a aumentar e os ratings da divida pública a desvalorizar, os salários baixam, os impostos aumentam, a despesa publica sobe, a divida publica ultrapassa o PIB, a divida externa bruta ultrapassa duas vezes o PIB, o desemprego atinge um quinto da população activa do país, os mercados internacionais retiram a confiança do credito a Portugal, imigra-se a um ritmo superior ao do tempo do Salazar, as empresas fecham e/ou fogem daqui para fora, em tempo de crise aumentam-se os salários da função publica coitadinhos que eu preciso de votos para continuar a aumentar impostos, mas não isto esta tudo bem, a retoma vem já aí, mas não sei quando, e os impostos aumentam, ah e já me esquecia os impostos aumentaram outra vez, o preço dos combustíveis estão ao nível do Reino Unido e da Escandinávia, já estão mais caros que em França e na Alemanha, os salários é que continuam muito mais baixos e a baixarem todavia mais, e ah já me esquecia, vocês sabem que os impostos subiram outra vez?
     Deixo-vos uma pequena-grande reflexão. Se eu tenho um salário de 1000 euros mensais mas estou a gastar 1200 euros por mês, significa que tenho um deficit nas minhas contas de 200 euros mensais, então e que faço eu? 1º- Reduzo as minhas despesas em pelo menos 200 euros por mês.
2º- Arranjo outro trabalho que me traga um rendimento adicional de pelo menos 200 euros por mês.
3º- Aponto uma pistola á cabeça do patrão e obrigo-o a pagar-me pelo menos mais 200 euros mensais. De cada vez que o governo aumenta os impostos, está a apontar uma pistola á cabeça de cada contribuinte. Reduzir as despesas é urgentíssimo.
      2ª Pequena grande reflexão. Como se pode entregar o governo de um país a uma cambada de (ver titulo da peça), que nunca geriram nada mais que o seu próprio orçamento familiar?
     3ª Pequena grande reflexão. Os Romanos diziam do povo Lusitano «que merda de gente que nem se governa, nem se deixa governar».
     Isto meus amigos há coisas que nunca mudam.

domingo, 19 de setembro de 2010

CAMINHANDO

                                                                       II
                                                                                      
   Hoje por acaso ate nem esta muito mal, o tempo, um belo dia de sol, o dia hoje acordou bem-disposto, depois de quase uma semana de má disposição, de náuseas e de vómitos que me encharcaram os trapos ate aos ossos, hoje o gajo está bem-disposto, manda um reconfortante calor de Outono, para me enxugar os trapos e os ossos. A mim e ao Sócrates, se bem que ele não se queixa nunca, sempre bem-disposto caminhando a meu lado com a língua de fora qual cascata de agua descendo a montanha, batendo com a cauda sempre a dançar ao ritmo dos passos e batendo de quando em vez nas minhas pernas como que fazendo festinhas, dando alento e força sempre motivando e encorajando, passo a passo. Ele não se queixa, nunca, enquanto chove deixa chover, e deixa escorregar a agua pela camada superficial do pelo, e quando pára manda-lhe uma sacudidela e já esta, manda-lhe duas ou três ladradelas como quem fuma um cigarro em cima do café ou depois de um acto de paixão e já esta, continua caminhando, que inveja, de viver sem complexos ou preconceitos, é o que chamo ser feliz, mas creio que tal nunca alcançaremos, é o preço a pagar pelo fruto da sabedoria, o Sócrates não sabe nada, e nada quer saber, tudo o que tem lhe chega na conta peso e medida, nem mais nem menos, nem passado nem futuro, nem bem nem mal, nem justo nem injusto, nem depressa nem devagar, tudo na conta certa, sem perguntas nem respostas, não são precisas, se não precisas de respostas porque fazes perguntas, se já tens a resposta não precisas de perguntar, só se for para ser chato, como essas almas penadas e irritantes, tipo jornalistas de rua que vão perguntar ao desgraçado que lhe acabou de arder a casa ‘’ – O que é que sentiu ao ver arder a sua casa? ‘‘ ‘‘ - É pá fiquei felicíssimo nem queria acreditar na sorte que tive, com tanta gente no mundo e veio-me arder a casa logo a mim pá, nem cabia em mim de contente pá, isto é muito melhor que ganhar o euromilhões pá. ‘’ Ou então depois de um jogo de futebol perguntam a um jogador da equipa que perdeu ‘’ – O que é que correu mal hoje Babimico para não conseguirem ganhar este jogo? ‘‘ ‘’- Faltou marcá maiz goulos qui o tximi adiversario néé, maiz vamoz trábálhá p’ra ájudá o tximi e si déus quizé i si deus mi asudá vamos consigui dá á volta por cima néé? ‘’. Enfim, há coisas que se fazem por instinto, outras por paixão, por obrigação, por dedicação, por irreverência, por revolta, por amor, por ignorância ou sabedoria, por isto e por aquilo, por tudo e por nada, há aquelas que sabemos por que as fazemos e depois há aquelas que não temos nem puta ideia de porque o fazemos, que é o meu caso, por loucura talvez, por insegurança, irreverência, porque sim ou então porque não? Seja como for aqui estou, caminhando, sem destino e sem direcção, ao sabor do vento das montanhas, da brisa das planícies dos raios de sol e das facas das tempestades de chuva gelada, com este picar de alfinete, com este comichão irritante que me assola o cérebro, este bicho da fruta que invadiu a maçã do meu conhecimento e qual serpente sorrateira deslizou pelas estepes de Sofia por onde vagueio e divago, por onde enlouqueço e me esclareço, por onde pergunto e respondo, onde me ofusco e ilumino, onde medito e contemplo, e pronto assim vou seguindo sem destino e sem direcção, ou com destino escolhendo uma direcção, ou destinado a procurar uma direcção, uma direcção sem destino ou um destino que muda constantemente de direcção, sei lá, o que sei eu afinal, se soubesse não estava aqui, caminhando com o Sócrates a meu lado, ambos de mãos dadas com essa senhora linda graciosa e resplandecente que ilumina o meu ser, essa senhora sem nome, que me sussurra constantemente ao ouvido carícias suaves de flanela que me fazem flutuar e sorrir. E por isso caminho!
   As folhas já caem, quem me dera ser pintor, e pintar um quadro com todos aqueles tons de castanho verde e vermelho de laranja e amarelo, e pô-los a voar ao sabor do vento e da chuva, numa tempestade de cores, qual neve pintando o chão não de um monocromático branco mas num divertido e alegre tapete de cores no qual caminho como numa alcatifa de veludo onde me rebolo nu, e no meio uma macieira, de deliciosos frutos, ou um castanheiro, catapultando espinhos em nossa direcção, um esquilo saltando de ramo em ramo com as bochechas cheias de nozes castanhas, avelãs e bolotas e até quem sabe um javali farejando o chão, ou ate mesmo o Sócrates a correr atrás de um coelho, de uma lebre ou uma perdiz, hum… por isso é melhor não me dedicar à pintura, que filme mais visto, até parece uma cena de caça de um qualquer quadro barato desses que se vendem nas feiras por meia dúzia de tostões, ou de escudos ou de cêntimos, sei lá! Talvez pintasse uma lesma ou um caracol a deslizar pelo tapete de folhas mortas, isso sim seria original, nunca vi um quadro com lesmas, a largarem aquele rasto de secreção ranhosa, a secar e ao brilhar ao sol, isso sim seria original, mas duvido que alguém quisesse uma foto desfocada de irrealismo na sala ou na cozinha, muito apropriado por acaso, se conseguisse fazer essa cena atraente e bonita, graciosa e comovente, isso sim seria original, um verdadeiro artista, fazer com que alguém quisesse exibir na sala ou na cozinha que seria mais apropriado, uma cena repugnante de uma lesma a ranhozar pelas folhas, ao ritmo do tempo, isso sim seria arte, fazer alguém comer uma poia de merda disfarçada de chocolate ou de qualquer receita de pudim caseiro. Mas pensando bem, talvez não fosse assim tão original, porque já anda por aí muita gente a comer gato por lebre, digo, merda por chocolate ou por qualquer receita caseira de pudim, num serviço da ‘’Vista Alegre’’ guardanapos de linho bordado, um centro de mesa desenhado por qualquer arquitecto da moda, recomendado por um qualquer chefe da alta-roda, perfumado com rosas inglesas colhidas numa manha de maresia de primavera no solstício de Outono, e ‘’voila’’ nhanhas a la voicisi d’êtê’’ que delicia, exibindo toda a hipocrisia gustativa aos convivas sentados em poses erectas, geométricas e trigonométricas, exibindo trapos de um qualquer saloio da alta-costura que impinge sonhos e ilusões ao preço de um qualquer sentimento, de um qualquer desejo impregnado de complexos e preconceitos, todas essas coisas que o Sócrates, feliz da vida não conhece, nem sonha que existem, porque para ele a companhia da dita senhora já é mais do que suficiente, providenciando-lhe uns sempre aprazíveis palmos de terra onde ele possa espetar as unhas a esgravatar na terra suja, rebolando-se num qualquer monte de dejectos de um outro animal para lhe tirar o comichão das carraças e das pulgas, sim porque o Sócrates é um verdadeiro ambientalista, defensor acérrimo dos ecossistemas, nada como esses ambientalistas e membros da liga protectora dos animais abandonados e mal tratados coitadinhos exibindo os seus lulus espalhando dejectos pelos passeios e jardins com uma coleira e não sei quantas ampolas de antiparasitas no cachaço, coitadinhas das pulgas e das carraças, e as lombrigas coitadinhas, ai gosto muito dos animais mas não suporto baratas lá em casa, ai sempre sonhei viver no campo, não me consigo é habituar aos ratos dentro de casa, e as cobras que os perseguem no jardim, que horror, que nojo, mas o Sócrates não, com ele o ecossistema vai todo a traz, todo um habitat, pela boa preservação da biodiversidade. Poucas coisas me dão mais prazer que ver um cão de apartamento exibindo o seu dono pela trela, sim porque a escravatura ainda não acabou ao contrario do que se diz por aí, todo Maria não me toques gritando ordens que nunca são compridas mas sim exibidas, e ao primeiro lamaceiro que encontram ou ao primeiro animal morto enterrado ou a apodrecer ao ar, ou uma poia bem fresquinha de algum aflito que se aliviou ali mesmo a traz dos arbustos num momento de aflição, e zás lá vai o lulu a esfregar, comer, a rebolar, a deitar rodopiar, comer esfregar ladrar rosnar, que alegria que delicia, e depois chega o dono, e é uma desgraça quando alguém cheio de salamaleques, complexos e outros preconceitos reza insultos á vida enquanto o cachorro, feliz da vida se ri, com a língua de fora a lamber os beiços a ladrar aos saltos e a lamber a pica, isto meus senhores é felicidade, e rogar pragas á vida por ter de agarrar no bicho fedorento e imundo, subir as escadas do prédio ou o elevador, impregnando todo o condomínio do indescritível fedor, e marcando as impressões digitais caninas com tinta biológica e biodegradável no caríssimo pavimento de um qualquer mármore macio e barato, que vergonha meu deus, e depois entrar com ele no piso perfumado a incenso e meter o detestável e imundo bicho na banheira para lhe dar banho, onde se da banho aos filhos e aos amantes, com champôs da ervanária enquanto ele sacode a agua do pelo e salpica toda a divisão para depois se enxugar num caríssimo turco comprado numa qualquer loja de um centro comercial da moda, e isto meus amigos é ser amigo dos animais, tira-los do seu habitat e obriga-los a passar dias fechado numa prisão de betão, tecido, madeira e verniz, sem poder correr, sem poder cheirar, sem poder marcar território com um alçar de perna e uma mijadela rápida de dois esguichos, sem poder cheirar o cu do patrício da mesma espécie, há mas eu gosto muito dos animais e protejo muito os animais, ate lhe ponho uma mantinha nas costas para que não tenha frio, eu tenho pêlo e pele espessas seu estúpido não preciso dessas merda para nada, eu sou um cão e não um maricas de um humano como tu, vê mas é se me acossas o peito e me das duas palmadinhas no lombo e traz a merda da comida que preciso de afiar o dente, e quando digo comida digo qualquer coisa rica em nutrientes e não essa merda dessa ração que nem cagar faz, que um gajo tem de estar três dia a espremer as costas para tirar um cagalhotosico do tamanho de uma castanha, é que eu Não tenho a culpa de seres um irresponsável que nem um filho és capaz de criar e educar, e que depois se desculpam que criar um filho sai muito caro, mas compram essa ração de merda que custa para cima de um balúrdio, e depois mais umas vitaminas e mais uns complementos alimentares porque essa ração de merda não vale um chavo, e mais umas vacinas e mais uma operação plástica e mais uns brinquedos de borracha, e o raio do cão sai mais caro que os putos, mas bastante mais descartáveis abandonados na varanda pelos quinze dias de ferias nas Caraíbas, ou num qualquer hotel da especialidade, que não são capazes de pagar cinquenta euros por um curso de inglês mas pagam cem euros par ir a Lisboa ao estádio da luz ou de Alvalade ver o clube do seu coração levar na tarraqueta de um qualquer clube de traz da serra, e o arbitro é um ladrão e o culpado é o Pinto da Costa.
E vou voando sem destino ou direcção, qual semente de alface ou de dente de leão, leva-me o vento ao sabor da vida, procurando um sitio onde germinar onde dar vida á vida, pois assim é toda a vida, fugir á inexistência para alcançar a morte o mais tarde possível, fintando-o antes se possível de tirar da inexistência mais umas quantas sementes que voaram sem destino ou direcção, mas com um objectivo, de manter viva e em movimento a matéria, a mesma de que também nós somos feitos, afinal é mesmo isso a vida, matéria, matéria em movimento, um movimento de espiral continuo, sem destino e sem direcção mas sempre com um objectivo bem definido, o de continuar o movimento, e isso é algo de espantoso e de inatingível para a grande maioria dos seres inteligíveis, que entendem o mundo onde se movimentam apenas pela perspectiva das suas próprias vidas, que não entendem que se mantêm em movimento e que pensam nada existiu antes deles mas que eles próprios se mantenham aqui muito para alem da morte, tentam fazer das suas vidas para alem do seu fim o próprio movimento da vida, mas não sabendo o que vem depois por nunca ninguém o ter vivido e regressado para contar a historia, tentam em vão controlar em vida a vida para alem da morte com historias infantis e fabulas mal fundamentadas, porque é enorme o desejo e a ambição da imortalidade, houve no entanto, e continua a haver alguém que pelos seus feitos, e pensamentos conseguiu atingir a imortalidade, a imortalidade do exemplo e das ideias, mas não a da matéria, essa continua em constante movimento e transformação, ao arrepio daqueles que não se conformam que a sua própria matéria que tanta vez lavaram, depilaram, apararam, vestirão, perfumaram, pintarão, apertaram, soltaram, cortaram, colarão, em busca de um ideal efémero, que apenas alcançará a eternidade na memoria dos sobreviventes, e não encaram de bom grado a ideia de que também eles se vão tornar em matéria orgânica em decomposição mal cheirosa ou em cinzas como qualquer outro animal ou vegetal, que desilusão e que grande frustração, e é a isto que chamamos de civilização, esse destino tão poderoso que ainda não houve inventado perfume, roupa, acessório, ou dinheiro que o conseguisse ludibriar.
Há no entanto uma matéria que não é transformável, a matéria da memória, da sabedoria, do conhecimento, pode-se perder, esquecer, pode-se adquirir, pode-se perseguir, pode-se ignorar, mas imutável, podemos sim acrescentar algo de novo em cima do que existe mas nunca alterar ou transformar a matéria da verdade. O ser humano tornou-se especialista em lidar com a verdade, de acordo com as necessidades ou caprichos de cada um ou de grupos de cadas uns, sendo a forma mais usual de lidar com ela, a sua própria ocultação ou adulteração, algumas vezes infelizmente até para sempre, muitas das vezes até a memoria que temos da matéria da verdade, não corresponde ao que realmente aconteceu, porque quando a verdade é demasiado importante, o ser humano entra em conflito pelo seu domínio qual matéria-prima, e como dos fracos não reza a historia, o que nos sobra da memoria não é mais do que a conveniência politica do vencedor, por isso o ser humano se tornou tão implacável e dominador, predador sobre todas a espécies, mas há no entanto uma especial que ele ainda não conseguiu dominar, a Vida, mais conhecida por Natureza, ou Universo, seja lá isso o que for ou que nós pensamos que é, mas seja o que for, recuso-me a inventar mais deuses para explicar seja o que for, é tempo de crescer e de recordar apenas com carinho as historias e as fabulas de encantar de príncipes e princesas perfeitas criados à nossa própria imagem, e á imagem dos nossos sonhos, ambições, expectativas desilusões e frustrações.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

CAMINHANDO


                          I


   E vou andando sem destino ou direcção, caminhando ao abandono de tudo, da vida, da morte, de tudo e de nada, e vou andando, caminhando correndo sem destino ou direcção. Venha sol ou chuva vento ou brisa, seja de noite ou de dia, e vou caminhando sem destino ou direcção, vejo passar as nuvens e os raios de sol, a brisa que me afaga as melenas doiradas quais raios de sol, e sigo pelas estepes, pelas savanas, por montanhas e vales e subo e desço e sigo, sem destino ou direcção, e baixo a cabeça e olho as pontas das botas gastas, passo a passo, um a seguir ao outro, e escuto a melodia desse metrónomo, um a seguir ao outro, essas botas gastas pelo passar dos passos dos metros dos quilómetros, léguas a seguir a léguas. E vou caminhando procurando um destino e uma direcção, caminhando, fazendo o percurso da vida, essa senhora que nos surgiu do nada, que nos foi ofertada, numa certa noite de loucura, alguém que não conhecemos mas de quem gostamos instantaneamente, e juntos vamos caminhando, procurando um destino e uma direcção, e é um amor louco doentio, não podemos viver com nem sem quem 
   E vou caminhando de mãos dadas com essa senhora, procurando e descobrindo, os destinos e as direcções, essa senhora que me ajuda qual minha mãe, atenta preocupada carinhosa professora, sempre mostrando o caminho, e a direcção, metendo por becos e avenidas, por travessas e ruas, por auto-estradas e vias rápidas, por montes e vales, por oceanos e glaciares, mostrando tudo o que de real existe, tudo o que nos rodeia, de bom e de mau, de triste e alegre, de feliz e infeliz, dessas coisas que nos correm no sangue, essa sopa que nos alimenta, que nos dá uma certa senhora a comer à boca qual mãe dedicada, essa sopa que nos dá força e alento para continuar a caminhar, à procura desse destino e dessa direcção, e vamos compreendendo e confiando nessa senhora que segue a nosso lado procurando o caminho, de mão dada, balançando aos saltinhos, por essas veredas verdejantes, ao largo de um lago de margens ondulantes de brisas e de tempestades, e também de mares de calmaria, por ondas enormes tocadas pela força do vento navegando mundo fora, de mão dada com essa senhora, essa senhora que é minha, companheira e amiga, mulher e amante, e caminhamos, corremos, navegamos, voamos sem destino ou direcção, descobrindo, passando pelas coisas e aprendendo, porque é ela que nos ensina, essa senhora, que conheci numa noite de paixão, e que uns meses depois numa manha equatorial, ao saltar do sol, se fez luz, e vi o que fizera bem, e chamei-lhe vida, e assim nasceu o universo, as noites e os dias, e vi que fizera bem,  ela agarrou-me pela mão e começamos a caminhar, à procura de um destino e de uma direcção, e vi que era bem…

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Se a religião é o ópio do povo, então, a hipocrisia é a cocaina da sociedade moderna

É uma correria de manha á noite, desenfreada louca, sem sentido sem nada, é despertar ensonado depois de um sono á pressa, depois de um serão da mais  profunda amizade virtual, despertar, acordar, levantar, lavar arranjar, são os filhos que é preciso mandar para a escola, dar o pequeno almoço aos filhos e ao marido, a mesma rotina, sempre a mesma rotina, o mesmo fado, a mesma vida, a mesma sina, o mesmo enfado, o mesmo sacrifício, o mesmo aborrecimento, que vida mais sem sentido, uma vida no meio de milhões de vidas de almas gémeas, perdidas, atrofiadas, frustradas, as mesmas todas sem sentido, sem nada. É uma correria desenfreada em busca do inalcançável, em busco do inverosímil, em busca de tudo e de nada, em busca dos sonhos que as mantém acordadas, a respirar, a sentir o vazio, a ver o tempo passar, o correr, ser disparado como relâmpagos, a vê-los passar diante dos olhos, diante da vida, diante de nada. É a solidão de um grão de areia no deserto, a solidão do ser de entre os seus pares, a solidão da vida no meio da própria vida, já não há alma já não há sentimento puro, é todo um ar impregnado de poluição hipócrita, é a força e a pressão de um grão de areia na superfície do deserto sofrida pelos seus iguais, tanta união e tanta solidão, como é possível, a inteligência do Ser desafiou a vida criadora, a sabedoria da evolução? Tantos dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos, milénios, milhões e milhões de anos, de milhões de anos-luz de evolução, tudo deitado ao lixo por este Ser numa questão de milionésimos de segundos no contexto global da evolução, que Ser mais cruel e atroz, mais sádico e mesquinho, mais invejoso e detestável, que esta pequena maravilha da evolução, nem um piscar de olhos passou e já está, foi tudo pela agua abaixo, é tão grande a dimensão do desastre que se adivinha, que nem em todas as línguas da terra há letras e palavras, sons, gestos e expressões para explicar tal fenómeno.
     Tão juntos e tão sós estamos nesta vida, a correr, a saltar sem destino ou direcção, estamos a deixar de ser saciáveis dentro desta sociedade, é a transformação total daquilo que somos, é uma catástrofe de dimensões inimagináveis ainda por enquanto, é o correr de manha á noite, o cruzar com vizinhos que não se conhecem, que podem ser até bandidos, de gravata bem vincada e barba bem aparada, que nos sorriem de gestos agradáveis e simpáticos, é o buzinar e os gestos obscenos, a quem dizemos não ser civilizado, é a supremacia do narcisismos elevada á potencia do cubo da nossa hipocrisia, é o correr, sempre a correr, sem demoras, sempre atrasados, sempre em busca do que não temos sem saber o que realmente queremos, e assim se passam as noites a seguir aos dias, na vastidão abissal do tempo, sem saber compreender qual o nosso lugar. E corremos, sempre a correr, em busca do inalcançável, porque não sabemos o que somos, já esquecemos de onde viemos, não fazemos a mínima ideia de para onde vamos.
    Por isso corremos, sempre a correr, para não chegar tarde não se sabe onde, para chegar cedo sem saber porque, e corremos, como tolinhos, porque os outros correm, como ovelhas que somos, pois quem me dera ser feliz como as ovelhas que sabem sempre ocupar o seu lugar e morrem sempre felizes sem nunca dar luta a uma qualquer corda que se atravessa no caminho da lã do seu pescoço, é o conhecimento que os faz correr, é a ignorância da nossa felicidade que nos atraiçoou. Se a religião é o ópio do povo, como alguém uma vez disse, então atrevo-me a dizer que a hipocrisia, é a cocaína da sociedade moderna, e que o conhecimento é a dolorosa e interminável ressaca nas nossas vidas. 
    Por isso corremos, para matar esse vício, para acalmar a nossa dor, e alimentamos esta doce vingança da Natureza. Por isso corremos, para o trabalho, deixamos as crianças entregues aos pais adoptivos, aqueles que não lhe são nada mas que são na realidade quem mais vive com eles e quem melhor os conhece, são como que despejados numa estufa de ensino, de onde mais tarde são retirados e confrontados com a dura realidade, do tempo, do calor escaldante e do frio atroz. E corremos, sempre a correr, sem destino ou direcção, sozinhos, sempre sozinhos, isolados num mundo cheio de gente, voltamos e reunimos os indivíduos, sempre reunidos sempre juntos mas sempre tão sós, ninguém se conhece ninguém se entreajuda, já não há vizinhos, já não há famílias, já não somos uma sociedade, somos apenas o somatório, um exercício de álgebra, um resultado de uma equação, somos números aleatórios numa tabela de Excel, onde alguém nos joga e manipula, qual escravidão de algoritmos, sem vontade própria, sem ser, sem eu, sem tu, sem nada, tudo vazio, tudo em fila indiana, em busca de uma malga de caldo desenxabido, rico em hidratos de carbono e gorduras carbonizadas, já não há vitaminas, nem sais minerais, nem proteínas. 
    E por isso corremos, sempre a correr, ao som do tempo, ao sabor do vento, e cansados, de ouvidos saturados, de cérebros inchados, sentamo-nos, diante desta maquina infernal que nos vicia e acaricia, Que nos mima e ouve, que engole as nossas lágrimas, que escuta os nossos desabafos, que alimenta os nossos sonhos, que ilumina os nossos tristes e desolados e inconformados rostos, e temos todo um mundo á nossa disposição, há distancia de um click, ao tempo que demora a carregar num ENTER, e tudo se abre á nossa frente, milhões de pessoas, membros de uma sociedade que cada vez menos existe, que nos insultam e ofendem, que nos protegem e defendem, que nos acariciam e abraçam, que nos dão mimos livres de sons, tons, cheiros, afagos, gostos, de calor, nos dão tudo sem nada, ate amor e sexo livre de riscos de infecção sem protecção, é todo um mundo lindo rico e maravilhoso de sonhos e ilusões, que nos são vendidas pelo preço de nada, do vazio, da frustração, da agua na boca e da sensação de falhanço, com o amargo do saber a pouco, com o sonho do querer mais, de ter o que não se sabe existir, de voltar a conhecer o que nunca se provou. Por isso corremos, sempre a correr de um lado para outro , pior que formigas, já não temos nem deixamos rasto, apenas corremos, sem saber porque corremos, mas como os outros correm, nos corremos também, mas não sabemos porque o fazemos, apenas corremos…