quarta-feira, 18 de julho de 2012


Sombras da inquisição

Muitas são as ondas que se têm levantado contra o actual governo, com mais ou menos vento, mais brisa menos tempestade, sem nunca atingir o nível de tempestade tropical. A que mais me indignou (sim também me indigno, não pensem que não, só não o faço por qualquer coisa), é a recente tempestade levantada pelo ‘’meritíssimo’’ bispo das forças armadas Torgal Ferreira, que pasmem-se, até o apoio dos laicos e ateus de esquerda merece, ou será que apenas estão a apoiar as declarações de mais um seu compincha de esquerda também ele laico e ateu a julgar pelo teor das suas declarações, nomeadamente no que diz respeito ás violações dos pecados mortais nelas contidas. A não ser claro, que pela posição próxima de deus que ocupa, beneficie de informação privilegiada no que diz respeito á não existência do mesmo, explicando-se assim a Auxência de medo por eventuais represálias do mesmo.

A mim quer me parecer que é apenas mais um porco gordo a chiar na hora da morte e da tão proclamada redenção final, até porque se deus existe mesmo, o diabo deve estar a esfregar as mãos de ansiedade pela hora em que o vai apanhar a ele e a outros da sua laia nos confins burocráticos e quentes do inferno.

Isto de apelar ao combate á corrupção tem muito que se lhe diga. Não chega andar por aí a vender noticias aos jornais, rádios e tv, com muita conversa fiada.
A luta contra a corrupção não se faz nos órgãos de comunicação social, nem com leis, nem com devaneios proféticos onde acusamos os outros de terem a casa suja quando se esquecemos de limpar a nossa própria.

Esta classe politica que nos governa (onde a igreja com a sua influencia sobre grande parte da população também se inclui), não caiu aqui de para quedas vinda de um planeta distante. Esta classe política é filha do povo que a pariu. Esta classe política é corrupta porque todos nós o somos. Todos nós devemos bater com a mão no peito e dizer ‘’por minha culpa, por minha tão grande culpa’’. Todos nós devemos fazer uma introspeção e analisar quantas vezes na vida já fomos também corruptos, isto antes de começar por aí a disparar em todas as direções como se todos fossem culpados dos nossos próprios erros.

Quantas vezes chegaram á caixa de um supermercado com uma garrafa de agua na mão ficando na fila atrás de 2,3,4 pessoas com o carrinho cheio que lhe deram a vez? Quantas vezes passaram á frente de alguém numa fila? Quantas vezes optaram por não fazer  algo que não é legal, ou menos licito ou ético e que vos traria alguma vantagem, mesmo sabendo com certeza absoluta que não seriam apanhados? Quantas vezes um ‘’toque’’ em alguém que pode fazer algo por uma amigo ou familiar em certa instituição? A cunha do emprego? A promoção facilitada? Uma multa perdoada? Um bilhete esgotado? Etc. etc. etc.

Não pensem que em certos países não há corrupção, claro que há, só que as pessoas sabem lidar com ela. Nós, os portugueses não sabemos, passamos-lhe demasiada confiança, porque precisamos demasiado dela. É demasiado importante para nós. Dá-nos demasiado jeito.

No fundo, tudo isto não significa que eu seja contra o combate á corrupção ou a favor dela. Significa que não concordo com o método. Mais uma vez escolhemos o método errado, aliás este país sofre imenso desse mal, falta de método e de organização. Trabalhamos muito, mas mal. Sofremos muito, mas em vão. Tudo por falta de método e de organização. Se chamam ás declarações do bispo combate e denuncia de corrupção, então não me admira se daqui a pouco começarem a entregar o ónus da prova do crime aos próprios acusados. Porque no fundo é isso que vale acusar sem provas. Zero. Vejamos, no tempo da inquisição, quando alguém não gostava de alguém, fazia uma denúncia, de preferência ao padre, dizia-se que este ou esta era herege e bruxa e pronto, era imediatamente condenado á fogueira. Mas os tempos mudaram, agora, para que alguém seja acusado e condenado são precisas provas de crime, coisa que a malta do clérigo não está muito habituada a usar. É mais do que claro que este bispo em particular não gosta deste governo, mas não pode simplesmente sair por aí a apontar o dedo apregoando justiça, é que dessa forma corre o risco de acusar injustamente alguém, e comodizia Socrates o filosofo ‘’ não se deve responder á injustiça com a própria injustiça, pois não nos é permitido ser injustos’’, ou como cristo disse 370 anos depois, ‘’quando te derem uma bofetada, oferece a outra face’’. Mas até nem é de estranhar vindo de alguém que vive do trabalho alheio, sim, do trabalho daqueles que diz proteger.
 
Ao senhor que acusa os governantes de serem diabinhos vestidos de preto, pergunto ainda se já pediu desculpa à Humanidade por dois mil anos de tortura, escravatura, violações, assassinatos, perseguições, genocídios, guerras, e demais macabras e santas promoções da fé? Este e os outros senhores da sua laia, não são diabinhos de preto, são a personificação do mal com chapelinhos roxos e anéis de diamantes, e que, ao que parece agora, até dão um certo jeito a certas facções políticas, desde que sirvam para atacar o governo. Pois meus amigos, no fundo, bem no fundo, mas bem lá no fundo, no fundo em que se encontram os valores desta sociedade, é disso que se trata. Dizer mal. E para isso tudo serve. Senão reparem no caso da ‘’licenciatura’’ do  Relvas: nunca ninguém se lembrou de dizer mal do processo Bolonha ou como se chama essa treta, só se lembraram de dizer mal, quando isso beneficiou alguém de quem não se gosta.

Mal vai um país, em que a forma de critica e do direito á liberdade de expressão se limita ao bota-abaixo.