quinta-feira, 15 de março de 2012

Quando o motor não pega

Normalmente quando um trabalhador houve falar em aumento de produtividade pensa logo de imediato em cortes de ordenado e aumento de carga horária. 

Políticos de barro + Povo adormecido = Banca Rota

     Antigamente havia motores de camião, com 15 000 cc que debitavam 300 cavalos e consumiam 60 litros de combustível por cada 100 kms percorridos. Os camiões de hoje, têm 13 000 cc debitam 500 cavalos e consomem 32 litros aos 100. Antigamente desciam na mesma mudança que usavam para subir visto não disporem de sistemas de travões auxiliares. Hoje com travões ao motor e intarderes, descem facilmente com 40 toneladas a 90 km/h qualquer inclinação ate 6% em perfeitas condições de segurança.
    Isto é apenas um exemplo do aumento de produtividade que a tecnologia proporcionou neste sector de negócio, mas houve mais: as melhores vias de comunicação, a abolição das fronteiras e alfândegas e consequentes tempos de espera, as telecomunicações que permitem rentabilizar melhor os fluxos de armazenagem melhorando a rentabilidade de todo o processo logístico, etc,etc…
     Normalmente quando um trabalhador houve falar em aumento de produtividade pensa logo de imediato em cortes de ordenado e aumento de carga horaria.
    O governo diz que tem de levar a cabo uma serie de reformas estruturais na economia com vista ao aumento da tão famigerada produtividade, que em Portugal teima em subir em níveis muito baixos. Mas receio, que se todas essas reformas forem feitas, (mesmo que se consigam fazer todas), mesmo assim podemos não conseguir atingir esse objectivo do aumento da produtividade. Mesmo com um moderno camião, de motor muito eficiente, equipado com todos os equipamentos modernos e conduzido por um profissional muito qualificado, pode ser reduzido a uma muito baixa produtividade, se tiver que circular constantemente em estradas com baixos limites de velocidade, atrás de tratores agrícolas, carroças e papa-reformas, e, se tiver que perder meia dúzia de horas em cargas e descargas.
     A Produtividade não é coisa que se consiga apenas com um factor. É uma complexa engrenagem, onde todas as peças funcionam muito bem em conjunto, em torno de um mesmo objetivo, e é precisamente isso que eu receio, é que por muito bons trabalhadores que sejam os portugueses, por muito que trabalhem, e por muito motivados que estejam, se a economia e o país não funcionarem todos de forma bem organizada em função de um mesmo objetivo, não vejo como é que podemos voltar a crescer.
     Durante muitos anos, e a começar pelo tempo do sr. Cavaco Silva, investimos muito e mal em indústrias de baixo valor acrescentado, baseadas em trabalho barato e intensivo, descuramos a educação. Agora como resultado temos umas centenas de milhares de desempregados, sem formação adequada (mesmo os tais licenciados jovens, que tiraram cursos completamente desajustados das reais necessidades do país: ex. formamos cada vez mais professores, quando a população envelhece, formamos engenheiros de minas quando estas fecham, formamos gestores públicos quando é preciso reduzir o peso da função publica, etc etc.). Temos uma justiça que demora 2, 3, 4… anos a cobrar uma divida devidamente documentada e comprovada, que demora anos até resolver um processo de insolvência quando qualquer um destes casos deveria demorar no máximo, semanas. O sistema fiscal muda mais que uma vez por ano, políticas económicas de medio longo prazo não existem, de cada vez que mudamos de governo mudam as políticas a todos os níveis.
     Por muito boa vontade que exista de todos, nada funciona se qualquer uma destas coisas não funcionar. O futuro também não se me revela promissor, senão vejamos: tivemos um governo que nos últimos 4 anos duplicou o valor de contratos das parcerias Publico Privadas (PPP),  agora que esse partido está na oposição o que diz é que este governo não sabe negociar. Eles hipotecaram este país com contratos ruinosos até 2040, agora acusam os outros de não saberem negociar, é no mínimo irónico, mas em vez de se proporem a ajudar este governo a negociar, o que fazem é, acusar. Tentaram levar o país a uma situação em que fosse o então partido da oposição a fazer o pedido de resgate financeiro ás instituições internacionais. Para quê? Para depois na oposição poderem acusar «foram vocês». Por outro lado, o PSD, e o Presidente da Republica, deixaram  arrastar o país ao ponto da banca rota, forçando o PS a fazer o pedido de resgate, para dessa forma poder acusar «foram vocês». Agora, os que fizeram mal, tentam livrar-se das culpas a todo o custo de forma a poder voltar de novo ao poder. Os que foram coniventes com o mal, e que agora o tentam resolver, desculpam-se com o mal feito pelos outros, e sozinhos também nada  podem fazer.
     Pelas viagens que faço por outros países da Europa, o que vejo é que as estruturas funcionam, as politicas dos governos podem ser melhores ou piores, os governos chegam e partem, mas o país fica, a nação funciona, a engrenagem está lá. Em Portugal, o que vejo é um bloco de ferro para dentro do qual deitam meia dúzia de peças ao que depois chamam um ‘’motor’’, mas é claro que aquilo nunca vai trabalhar, mesmo que as peças estejam lá todas.
     Nesta ou em outra democracia, é urgente que, seja quem for que esteja no poder ou na oposição, pensem que têm de se unir em torno de um projeto e de um objectivo, tomando um rumo nacional, enquanto assim não for, não sei como vamos sair do buraco. Com alguém que diga outra vez «sei o que quero e para onde vou»
     Pensem nisto: a partir de 2013/2014, os custos com pensões (sem o resto da segurança social e ordenados da função publica), os custos das PPP’s, e os juros da divida, somam 68% das receitas fiscais. E o resto????
     Se até agora adquirimos direitos, parece-me obvio que daqui para a frente vamos passar a adquirir obrigações e deveres…

Um comentário:

  1. A Bélgica funciona a um ano sem governo, porque as estruturas (mesmo as públicas) estão fora da influência dos governos.

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