terça-feira, 14 de abril de 2015

Os inquisidores.

Aos treze anos, fui à garrafeira de meu pai, na companhia de um amigo meu,  agarramos numa botelha de tinto da cal, e fomos para os penedos. Vinho quente, no verão, à hora da sesta. Afinal, uma bebedeira era aquilo.
Desconfio que na história da humanidade, este não foi um caso isolado.

O governo prepara-se para aprovar legislação que proíbe a venda e o consumo de álcool a menores de dezoito anos.
Já era proibida a venda a menores de dezasseis anos. Mas nem por isso dei conta que os jovens tenham deixado de consumir álcool.
Os hábitos de consumo sim, acredito que tenham mudado. Se antes o experimentatavam no seio do ambiente familiar,  agora fazem-no às escondidas. Se antes bebiam vinho ou cerveja, agora bebem bebidas destiladas de alto teor alcoólico.

Não pretendo fazer aqui uma apologia do consumo de álcool na adolescência.  Nada disso. Aceito bem a mudança dos tempos. Se antigamente os putos comiam sopas de cavalo cansado ao pequeno almoço,  agora já não vão para a escola bêbedos. Agora vão para a escola a tombar de sono porque estiveram agarrados na Internet e a jogar playstaition até de madrugada. Muitas vezes com os pais. Entre as duas venha o diabo e escolha.

O que me incomoda nisto é a prepotência estalinista dos nossos políticos, governos,  em impor por força de lei a mudança de hábitos das pessoas.  Se deveria ser a lei a adaptar-se às mudanças,  é a lei que impõe as mudanças.

Compreendo que esta medida fique bem. É uma preocupação que parece bem nos media, perante outros povos outros paises. É uma lei moderna, que parece bem e garante votos. Mas infelizmente não vai alterar nada. Primeiro porque o Estado não tem meios nem tem condições para fiscalizar a aplicação da lei. Segundo porque a nossa sociedade civil não está preparada. Não estou a ver os supermercados, mercearias, tascos, cafés e restaurantes a pedir identificação a todo o galfarro ou chavala  com três pelos na cara ou mamas do tamanho de melões. Também não estou a ver a sociedade civil a bufar tais incomprimentos legislativos. Já para não falar dos assaltos às garrafeiras dos progenitores e similares.

Os jovens vão continuar a fazer asneiras, a cometer excessos,  a ser irreverentes, a ser irresponsáveis às vezes, seja qual for a lei. Afinal ser jovem é isso mesmo.  Ou será assim, ou estaremos a criar uma geração de totós.

Há outra coisa que também não entendo nesta proposta. Um jovem de dezasseis anos pode trabalhar, prover ao seu sustento e pagar impostos ao Estado. Pode até fazer tatuagens, piercing, bazar para concertos e fazer abortos às escondidas dos pais. Mas pelos vistos está impedido de gozar na plenitude os seus direitos de cidadão e exercer o seu livre arbítrio, bebendo uma mini fresquinha, ou uma lambreta.  Porquê?  Porque há uns senhores ditadores no governo que se auto proclamam ao direito de decidir pelos demais em matérias que não lhe dizem respeito.

Eu sou um liberal convicto.  Um liberal que entende o liberalismo como liberdade de escolha e de decisão.  Liberdade de escolher o que quero para mim, desde que isso não interfira com a liberdade de escolha dos demais. Ora esta lei, interfere claramente com a minha liberdade de escolha enquanto cidadão com menos de dezoito anos.
Exemplo: a lei que proíbe fumar em locais fechados e públicos, é uma boa lei. Não retira ao cidadão o direito de escolher se quer ou não fumar, mas protege os direitos e opções dos que não fumam nem querem levar com o fumo dos outros.

Será que um cidadão não pode ter o direito de praticar actos que lhe sejam prejudiciais,  desde que isso não prejudique mais ninguém?

Esta mania inquisitorial, prepotente, estalinista, fascista (o que lhe quiserem chamar) que os governos socialistas e socializantes têm de se substituir aos direitos e liberdades de decisão das pessoas. Sim. Este é um governo socialista.  Aumenta impostos até ao limite, estanca a redução de despesa de acordo com o interesse político e legisla em abundância sobre os hábitos e direitos das pessoas.

Ao Estado o que é do Estado.
Às pessoas o que é das pessoas.
As pessoas dão aos responsáveis pelo Estado o poder de gerir o Estado. Deveria restar às pessoas o poder, a liberdade e o exercício do livre arbítrio para gerir as suas próprias vidas.
Será pedir muito?

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