quinta-feira, 23 de abril de 2015

O perigo das propostas do manifesto dos doze

Um anterior governo deixou o país na ruína, à beira da banca rota. Tinham prometido 150000 empregos, e o desemprego subiu de 400000 desempregados para 780000. Prometeram um choque tecnológico,  que se traduziu num brinquedo para os garotos. Prometeram crescimento e prosperidade e o que o país recebeu foi a banca rota e a inevitável perda de soberania.

O país ficou doente. Precisava de um plano de cura. Uma intervenção cirúrgica para reformar a estrutura da economia.

Durante o tempo que durou a intervenção externa,  os senhores que negociaram e assinaram essa intervenção,  estiveram sempre contra ela. Houve apenas um momento em que isso não aconteceu.  Foi a reforma do IRC.

Passaram-se quatro anos. As reformas de que o país precisa estão longe de estar concluídas. O trabalho de reformar o Estado ainda mal começou.  Na economia alguma coisa foi feita.  Mas na esfera da administração pública, está quase tudo por fazer.

Mas há quem não pense assim. Há quem pense que o país já está em condições de voltar a 2005. Há quem pense que o futuro está num regresso ao passado. Às promessas dos rios de mel.

Convém aqui lembrar, que uma reforma política ou económica só o é se se prolongar no tempo. Se quatro anos depois mudar-mos de rumo, o tempo, esforço e dinheiro despendidos tornam-se em lixo. Esta estratégia dura há quatro décadas. De cada vez que muda o governo atiramos com as reformas para o lixo. Os políticos brincam, o Povo paga.

O problema deste manifesto é que não há reformas. Não há um conjunto integrado e dinâmico de medidas que garantam a continuidade das reformas económicas, que garantam o emprego e o crescimento.  Não há uma proposta sequer no sentido de reformar e requalificar a administração publica. Não há uma proposta para reformar a administração territorial.

Tudo o que o manifesto apresenta são um conjunto de medidas avulsas, que custarão muito dinheiro ao Estado, que vão agradar a muita gente no curto prazo, mas que todos vamos pagar daqui a 5 ou 10 anos.  Foi assim com as PPP. Este manifesta representa um passo atrás na vida do país e das pessoas.

Ainda para mais,  as medidas são fantasiosas.
- Reduzir o desemprego para 7% em 4 anos. Significa criar cerca de 450000 postos de trabalho em 4 anos. Como é que se reempregam 450000 pessoas sem uma reestruturação da economia? Estas pessoas estão desempregadas porque o seu posto de trabalho desapareceu, foi extinto, foi embora para outro país.  Se não houver uma aposta na atracção de novos investimentos,  que criem novos postos de trabalho,  e trabalho qualificado que tenha uma elevada componente de valor acrescentado,  o país não cresce. Mas as pessoas que estão no desemprego não têm essas qualificações. Sem esta aposta a médio e longo prazo,  o desemprego nos próximos 10 anos, dificilmente baixará dos 12%. Ora este manifesto propõe acabar com a contratação a prazo, e dificultar o despedimento,  não garante a estabilidade fiscal, e reverte a baixa do IRC com um aumento do mesmo. Assim não haverá investimento.  Antes pelo contrário.  As empresas vão continuar a fugir. Eu por mim falo. A Renova por exemplo, poderia ter investido em Portugal,  mas não. Foi abrir uma nova fábrica em França.  Porque será?  Salários mais baixos?  Não me parece.
- Para agravar mais o cenário ainda, este manifesto dos doze, propõe aumentar o investimento publico e  participação do Estado na economia. Ou seja, investimento em bens não tranzacionaveis. Aumento do consumo interno. Ora devido à debelidade da nossa economia e das nossas empresas, isto vai resultar num aumento das importações.  Vamos voltar a colocar a balança comercial negativa, e vamos aumentar de novo o endividamento externo. Voltaremos a 2011. Porquê?  Porque a solução deste manifesto só funciona no curto prazo. A médio e longo prazo não é de todo sustentável.
Mas é claro que o PS não está preocupado com isso.  Como sempre, quem vier atrás que feche a porta.

Era uma vez um passarinho que estava à chuva numa noite de muito frio. Nisto passa uma vaca e ele queixou-se que estava molhado e com muito frio. A vaca vai, e caga-lhe uma grande bosta em cima. A merda da vaca estava quente. O passarinho deixou de ter frio, mas contudo, estava molhado e, ... no meio da merda. Entretanto a vaca foi-se embora.
Nisto passa uma raposa.  E o passarinho queixou-se que estava na merda.  A raposa logo se comprometeu em ajudar o passarinho a sair da merda. E vai daí,  comeu o passarinho.
Moral da história: nem todos os que te põe na merda te querem mal. E nem todos os que prometem tirar-te da merda te querem bem.

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