domingo, 18 de setembro de 2011

As contas da crise


    Não deixa de ser engraçado, depois da tomada de posse deste novo governo, a onda de protesto e contestação que se levantou por parte da população mais afecta a ideologias de esquerda, seja lá o que raio isso é. É também engraçado que se critique esse mesmo governo, quando este nem dois meses de posse tem, ainda nem lhe tinham dado tempo de arregaçar as mangas e já lhe tinham caído em cima, acusando-os do estado calamitoso em que o país se encontra.
    Nunca é de mais lembrar que o estado em que este governo apanhou a boleia do poder foi o da banca rota técnica, não foi de banca rota efectiva porque o governo anterior foi como que obrigado a fazer um pedido de resgate financeiro às instituições internacionais, quando um mês antes tinha dito que isso não seria necessário, e depois já só havia dinheiro para salários até ao final de Maio, caso contrário já as pessoas que continuam a refilar, não tinham comida para por na mesa dos filhos, é que parece-me que as pessoas não têm bem a noção do que significa uma banca rota, e se até hoje não o sabem, é talvez porque Portugal ocupa uma posição estratégica no contexto mundial, e como tal as grandes potencias não têm interesse nenhum que isso aconteça, caso contrário podíamos muito bem ser a Argentina da Europa.
     Também é sabido que esse resgate deveria ter sido feito dois anos antes, tendo dessa forma poupado muito dinheiro em juros, e sacrifícios à população. Mas a pergunta que se impõe é se haveria condições políticas para o fazer? O governo socialista se o fizesse, reconhecia a sua incompetência governativa, mas revelava ao mesmo tempo um colossal sentido de Estado, que poderia até mesmo levar ao perdão deste povo de brandos costumes que mais políticos e chefes de estado assassinou no século XX.
     Depois das eleições de 2009 o PSD passou a deter o poder de deitar o governo abaixo ao recusar qualquer um dos famosos PEC’s, bem como os orçamentos de Estado. Mas se o fizesse, deixava que o PS se escapasse impune das responsabilidades que tinha da péssima governação que tinha vindo a levar a cabo, arriscando-se mesmo assim a ganhar as eleições novamente. Desta forma, parece que o PSD foi também conivente no arrastar da situação, percebendo que essa seria a única forma de chegar ao poder, obrigando o PS a comprometer-se com o acordo de ajuda externa, e tentando assim arrasta-lo consigo num acordo pós eleitoral.
    Mas depois das eleições o que acontece? O sr. Sócrates sai de mansinho e sem estrilho pela porta das traseiras, até porque tem o rabinho entalado em muita coisa que não lhe interessa de que se fale. O PS elege um novo secretário-geral, e muda o cata-vento a 360º graus. Eu não tenho nada a ver com isto, nós não estamos comprometidos com isto, nós trouxemos a banca rota ao país mas isso não conta nada, até porque o que conta não é o passado, muito embora o assumamos, mas o que conta é o futuro, e o péssimo caminho por o qual este governo nos está a conduzir, nós somos aqui del Rei o grande e único protector do povo a quem andámos a roubar durante os últimos 15 anos, nós somos os únicos que sabemos o que é, e que defendemos o estado social, o SNE, e a educação pública, resumindo, nós somos quem sabemos tudo, fazemos tudo melhor que todos, incluindo a descobrir os auspiciosos caminhos da banca rota.
    Posto isto, este inteligente povinho, embarca naquela lengalenga, de que os políticos são todos uns gatunos e incompetentes (e alguns são-no realmente), mas como incompetentes que são, têm a obrigação de governar de forma competente, e logo ao fim de dois meses. Eu tenho a minha casa toda desarrumada, mas ainda antes de começar a arrumar, já me estão a acusar de ser um calão incompetente, de não ser capaz de arrumar nada, e pior, quem me critica também não sabe como se arruma, mas não pára de dar palpites e ordens como se soubesse muito bem do que fala, mas quando se lhe pede que arrume ou ensine como se faz, - não não, eu sei como se faz, mas não te digo, tu é que tens de fazer.
    Depois temos aquela oposição que não se opõe por saber fazer melhor, ou porque tem ideias melhores, mas faz oposição de dizer mal e bota abaixo, simplesmente porque tu não prestas e eu é que sei e eu é que sou o bom, quando lhe perguntam porquê? A resposta natural é: - Porque sim!
     Um conhecido humorista da nossa praça, um dia destes publicou numa das suas crónicas que faz regularmente para um conhecido órgão de comunicação social da também nossa praça, e com a graça que lhe é tão merecidamente reconhecida, que Portugal é hoje um país do norte, «vive como no norte de África e paga impostos como no norte da Europa». Mas acerca disso também é preciso não esquecer que Portugal durante os últimos vinte anos, já era um país do norte, visto que vivia no norte da Europa, com rendimentos e produtividade do norte de África.
     Ora, eu sempre ouvi dizer que ninguém dá nada a ninguém, como tal, as dívidas têm de se pagar, senão somos acusados de ser vigaristas e caloteiros. Ora para pagar essas dívidas vamos ter de continuar a ser um país do norte, pagar impostos como no norte da Europa, viver como no norte de África, produzir como no norte da Europa, e poupar como no norte da China, mas parece que, a julgar pela onda de contestação que se aproxima, que preferimos ser como os do norte de África. Eu por mim já me contentava se os portugueses, soubessem de uma vez por todas ser portugueses, e que soubessem ocupar o seu lugar de uma forma ponderada, sensata e inteligente, que deixassem de pensar tanto no seu umbigo e começassem apensar mais no futuro dos seus filhos.                
    A julgar pelo discurso da contestação, basicamente o que certas pessoas querem, é manter todas as mordomias que tinham e que nos trouxeram até aqui, e não ter que fazer sacrifícios. Querem que o estado lhe providencie tudo, mas não querem pagar impostos, exigem que o governo faça cortes, mas depois queixam-se que ficam sem emprego, e com menos serviços do que tinham antes. Lamento informar, mas não é possível fazer ajustamentos económicos sem sacrifícios, e quanto maior for o desajuste maior serão os sacrifícios, quanto mais tempo demorar o ajuste, maior será o sacrifício.
    Foi e continua a ser grande a contestação ao aumento do IVA da electricidade e do gás, só para dar um exemplo. A crítica é feita como se, se tratasse de um crime de lesa-pátria, mas é sabido que o aumento estava previsto e garantido há muito, o governo o que fez foi antecipar em 4 meses essa medida. Em relação a isto vamos fazer umas continhas simples. Tomemos como exemplo uma família que gasta 50€ de electricidade, até agora sobre esses 50 € pagava 6% de IVA, ou seja 3€. Com o novo aumento do IVA passa a pagar 23%, ou seja 11,5€, um aumento de 8,5€. Tendo em conta que o preço um maço de tabaco dos mais baratos deve rondar os 3,5€, e que se um fumador fumar 1 maço por dia, bastam-lhe dois dias e uma manha sem fumar, para pagar esse aumento de impostos. Uma pessoa que costume tomar o pequeno-almoço no café, basta-lhe menos de uma semana a tomar o pequeno-almoço em casa com a sua família para poupar esse aumento de impostos. O mesmo se aplica, á cerveja e aos caracóis que se tomam mais os amigos depois de sair do trabalho, dos telefones e custos de chamadas para os filhos adolescentes, para as idas ao futebol, para as trocas de transportes públicos pelo automóvel, pelas saídas á noite, para as deslocações a pé ou de bicicleta ao café, etc. Etc. Etc. Em Portugal vejo as pessoas com hábitos e formas dispendiosas de vida, que não vejo em países esses sim do Norte da Europa fazerem.
    Entristece-me que um país que sente tão grande orgulho e patriotismo pelos jogadores da bola, pelas medalhas nos jogos olímpicos, pelos seus recordes do livro do guinesse cada um mais parvo e estúpido que o outro, o seja tão pouco quando se trata de lutar pelo bem-estar da sociedade, pelo bem comum, e mais importante que isso tudo, pelo futuro dos seus próprios filhos.
    Haja Pachorra!!!! 

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