sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11 de Novembro de 1975




11 de Novembro de 1975

Sim. Realmente não é fácil esquecer o dia em que me expulsaram do país onde nasci, eu e os meus pais e irmãos, o país que ajudamos a crescer, o país que era a nossa casa e a nossa vida, o país que era mais que uma ambição, era uma paixão de toda uma vida de esforço e dedicação, de amizades e camaradagem com os amigos e era bela a relação que havia entre os vizinhos. Não é fácil esquecer o dia em que fomos roubados e espoliados de tudo o que tínhamos, o dia em que os próprios soldados Portugueses (não todos), nos apontaram as armas e nos chamaram de capitalistas, fascistas, exploradores de pretos, os mesmos pretos com quem vivíamos em perfeita harmonia, que tinham trabalho, que não passavam fome, que não morriam nem ficavam amputados por minas anti-pessoais, os mesmos pretos que nos disseram antes de partir-mos ''não vás, fica aqui connosco que ninguém te faz mal '' o dia em que fomos expulsos para um país que apesar de ser a nossa pátria mãe, não era o nosso, e onde chegamos com a triste camisa de manga curta numa manha de geada, e onde fomos rotulados de ''os filhos da puta dos retornados que vêm lá das àfricas, onde andavam a explorar pretos'', o país que perseguiu os nossos filhos na escola à pedrada, o país que adoptamos como nosso e que ajudamos a crescer. Quando ouço os meninos de Huambo do Paulo de Carvalho, dá-me uma revolta e uma mágoa, uma tristeza, porque menino de Huambo sou eu também, nasci na antiga Nova-Lisboa no bairro da Calumanda. É que hoje olho para a realidade dos meninos que vivem no Huambo e pergunto: onde estão essas historias de sonho, de verdade e de liberdade???

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