
Acho que isto pode ser um objecto de reflexão interessante, uma vez que revela um pouco da sociedade que temos, e do nível de informação e de esclarecimento intelectual que grassa por este país. A frase ‘’aproveita o dia’’ revela todo o potencial de uma sociedade terceiro mundista, pouco alfabetizada, ignorante, pouco informada e nada esclarecida acerca da realidade, e porque? Porque revela que as pessoas acham tal como em países do terceiro mundo e pouco evoluídos, que se deve viver o dia de hoje como se o amanha não existisse, tanto por falta de ambição e de objectivos das pessoas, tanto por falta de confiança das pessoas no futuro do país, bem porque não fazemos a mínima ideia do que queremos do nosso futuro.
Mas o mais interessante de tudo isto é o facto de em minha opinião, e é tão-somente a minha opinião, o facto de essa emblemática frase nem ser a mais interessante do filme, e muito menos a mais reveladora acerca da mensagem da história. Em minha opinião, o que marca mesmo o filme são cinco cenas em particular: a cena em que o professor diz aos alunos para rasgarem uma determinada página do livro e pouco depois lhes diz para subirem acima das mesas, e que olhem o mundo de uma outra perspectiva; a cena em que um aluno atira a prenda de aniversario que os pais lhe ofereceram pela varando abaixo; a cena em que o professor diz ao alunos para gritarem e soltarem o ‘’eu’’ que há em cada um deles; a cena em que o professor lhes diz para simplesmente andarem pela praça; e por fim a cena em que um certo aluno interpreta de forma maravilhosa uma peça de teatro, contra a vontade dos pais.
É um filme que nos dá que pensar. Faz-nos pôr as coisas em causa, faz-nos questionar se o que temos tem mesmo de ser assim ou se podia ser de outra forma, ensina-nos o que são os fundamentos da Filosofia, as perguntas constantes e a procura incessante de respostas. Alerta-nos para o facto de não termos de nos conformar com tudo o que convencionalmente nos ensinam ou nos querem vender. Mas acima de tudo diz-nos claramente que a verdade está dentro de nós, e que quem não se conhece a si mesmo não pode nunca aspirar a conhecer seja o que for, que é a partir do ser que há dentro de cada um de nós, que podemos compreender os demais que nos rodeiam, que é conhecendo-nos a nós mesmos que seremos mais tolerantes e compreensivos com as outras pessoas.
Diz-se que vivemos uma crise financeira internacional, mas acho que isso é apenas o que nos querem vender, e como sempre, a verdade não está no que nos querem vender mas no que nos querem ensinar. Hoje confunde-se muito o preço das coisas pelo valor das coisas. Hoje em dia tudo tem um preço, e todos conhecemos o preço das coisas, até porque a afixação das tabelas de preços são obrigatórias, mas por outro lado não é obrigatório o ensino e afixação dos valores éticos e morais que deveriam reger as nossas vidas. A crise financeira e económica que vivemos, não é senão o resultado de uma crise muito mais vasta e profunda, uma crise de identidade, e porquê? Porque não nos conhecemos a nós próprios, não sabemos quem somos, de onde vimos nem para onde vamos. O que sabemos melhor do que ninguém é inventar desculpas e atribuir culpas a toda a gente, o que não sabemos fazer no entanto, é ser auto-críticos, de forma a saber qual a nossa contribuição pessoal e colectiva para o estado, em que o estado se encontra.Não sabemos analisar as coisas de uma forma racional, objectiva e independente de complexos e preconceitos.
Eu aconselharia as pessoas que mandam nesta brincadeirinha, a ensinarem as crianças a fazer quatro coisas fundamentais, quatro disciplinas básicas em todo o percurso escolar, a saber: Português, para que todas as pessoas deste país saibam falar e expressarem-se; Filosofia, para que todas as pessoas deste país saibam pensar por suas próprias cabeças sem comerem alegremente toda a merda que lhe põem à frente; Matemática, para que todas as pessoas saibam fazer contas de uma vez por todas sem se endividarem; Desporto, para que toda a gente saiba que nada se consegue sem esforço e sem sacrifício.
Reparem que não é em países ricos em recursos naturais que se verificam os mais altos índices de qualidade de vida, mas sim nos países que mais e melhor educam os seus filhos.
Pelo que vejo nesta época eleitoral, não me parece que todos estes problemas sejam resolvidos nos próximos anos, continuando a sociedade portuguesa a sofrer não por falta de emprego ou de dinheiro, mas por falta de educação. Mas desde que haja velas em Fátima, reality shows e novelas na TV, futebol super bock e tremoços, em vez de Filosofia, nada disto vai mudar, entretanto façam favor de aproveitar o dia.
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