sexta-feira, 17 de setembro de 2010

CAMINHANDO


                          I


   E vou andando sem destino ou direcção, caminhando ao abandono de tudo, da vida, da morte, de tudo e de nada, e vou andando, caminhando correndo sem destino ou direcção. Venha sol ou chuva vento ou brisa, seja de noite ou de dia, e vou caminhando sem destino ou direcção, vejo passar as nuvens e os raios de sol, a brisa que me afaga as melenas doiradas quais raios de sol, e sigo pelas estepes, pelas savanas, por montanhas e vales e subo e desço e sigo, sem destino ou direcção, e baixo a cabeça e olho as pontas das botas gastas, passo a passo, um a seguir ao outro, e escuto a melodia desse metrónomo, um a seguir ao outro, essas botas gastas pelo passar dos passos dos metros dos quilómetros, léguas a seguir a léguas. E vou caminhando procurando um destino e uma direcção, caminhando, fazendo o percurso da vida, essa senhora que nos surgiu do nada, que nos foi ofertada, numa certa noite de loucura, alguém que não conhecemos mas de quem gostamos instantaneamente, e juntos vamos caminhando, procurando um destino e uma direcção, e é um amor louco doentio, não podemos viver com nem sem quem 
   E vou caminhando de mãos dadas com essa senhora, procurando e descobrindo, os destinos e as direcções, essa senhora que me ajuda qual minha mãe, atenta preocupada carinhosa professora, sempre mostrando o caminho, e a direcção, metendo por becos e avenidas, por travessas e ruas, por auto-estradas e vias rápidas, por montes e vales, por oceanos e glaciares, mostrando tudo o que de real existe, tudo o que nos rodeia, de bom e de mau, de triste e alegre, de feliz e infeliz, dessas coisas que nos correm no sangue, essa sopa que nos alimenta, que nos dá uma certa senhora a comer à boca qual mãe dedicada, essa sopa que nos dá força e alento para continuar a caminhar, à procura desse destino e dessa direcção, e vamos compreendendo e confiando nessa senhora que segue a nosso lado procurando o caminho, de mão dada, balançando aos saltinhos, por essas veredas verdejantes, ao largo de um lago de margens ondulantes de brisas e de tempestades, e também de mares de calmaria, por ondas enormes tocadas pela força do vento navegando mundo fora, de mão dada com essa senhora, essa senhora que é minha, companheira e amiga, mulher e amante, e caminhamos, corremos, navegamos, voamos sem destino ou direcção, descobrindo, passando pelas coisas e aprendendo, porque é ela que nos ensina, essa senhora, que conheci numa noite de paixão, e que uns meses depois numa manha equatorial, ao saltar do sol, se fez luz, e vi o que fizera bem, e chamei-lhe vida, e assim nasceu o universo, as noites e os dias, e vi que fizera bem,  ela agarrou-me pela mão e começamos a caminhar, à procura de um destino e de uma direcção, e vi que era bem…

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