quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Manias pá!!!

Estou a pensar na palavra "download".
Ouço uma entrevista de Van Morrisson (coisa rara), onde às tantas ele diz, " i'm not a downloaded artist".
Como se diz isto em bom português? 
Os brasileiros dizem " baixar". Por isso acredito que não seja difícil um artista brasileiro dizer " não sou um artista muito baixado", naquele tom despreocupado e descontraído dos brasileiros. 
Já em Portugal a coisa fica mais difícil, devido não só ao nosso ar maniento como se mais ninguém tivesse um alfinete enfiado no cu, mas também devido à nossa mania de nos armar-mos ao pingarelho importando estrangeirismos como quem come tremoços.
Isto nota-se mais, quando começamos a tomar contacto com outras línguas. Ouvimos as pessoas a falar, e pela formação da palavra ou da frase identificamos imediatamente o contexto.
Já em "bom" português de Portugal, ouvimos certas pessoas a falar sem conseguir perceber puto do que estão para ali a dizer. No fundo é como a sinalética toponímica, saímos da auto-estrada ou da rotunda seguindo um nome, mas depois esse nome desaparece misteriosamente para toda a eternidade.
Penso nisto também quando ouço certa gente falar nas conquistas e nas liberdades de Abril. Esta é precisamente uma das liberdades que Abril nos roubou. A liberdade de ser-mos nós próprios enquanto povo e nação. Perdemos o orgulho em ser-mos portugueses, e conquistámos uma vergonha saloia da nossa própria identidade.
Isto permite também, que muita gente fale daquilo que não sabe, fazendo no entanto passar a ideia que é um doutor. Isto é até muito conveniente numa sociedade em que um burro que use gravata é um doutor.
Se juntar-mos a isto, o facto de passar-mos a vida a mudar os nomes às coisas, em especial às profissões, então o quadro fica completo, e facilmente se percebe porque passamos a vida a perder parte da nossa soberania para terceiros. Não sabemos quem somos. Perdemos por completo algures num passado recente a nossa identidade. Perdemos o que nos unia. A nossa cultura, os nossos costumes e tradições. Envergonha-mo-nos de nós próprios.
Chamamos cultura a danças, músicas, encenações e pinturas que 98% da população não entende e com a qual se aborrece. Desprezamos o sangue do nosso povo, em detrimento de uma cultura importada e pseudo intelectual típica da fidalguia queirosiana, e completamente alheada da vida e das rotinas de quem trabalha.
A cultura, é o espelho de nós próprios que usamos nos tempos de ócio, que retratam o que fazemos nos dias de trabalho.
Cultura, não é uma imposição ideológica, imposta às massas pelo autoritarismo faccioso de pseudo intelectuais, que exigem financiamento de um povo que desprezam.
O resultado, foi uma quase completa perda da nossa herança cultural, para uma dependência quase toxica de tuguices e pimbalhadas.
Talvez seja tempo de subir as escadas, abrir o alçapão, apanhar com umas teias de aranha nas trombas, e escarafunchar por entre as brumas do pó, pelos artefactos da nossa história.
Atenção: esqueçam a alternativa cinematográfica norte americana de baixar à cave. É que em Portugal, a cave era onde habitavam os animais, ou em alternativa, era onde se armazenavam os víveres.
Talvez seja por isso melhor, pensar em descarregar algumas dessas memórias e arquivos para o ambiente de trabalho, para evitar ter que fazer um apagão do sistema e ter que reinstalar e programar tudo de novo outra vez.
E agora, depois de tanta verborreia, acho que estou a precisar de um up-grade. E porquê? Porque nós pimba!

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